13/10/2022

O coreógrafo e bailarino Marco da Silva Ferreira regressa ao Rivoli com a estreia de um novo espetáculo, onde aborda o passado da dança tradicional cruzando-o com os movimentos de criação de identidade e memória. O novo espetáculo acontece a 21 e 22 de outubro, no Teatro Rivoli.  

 

Há um mês, a temporada do Teatro Municipal do Porto arrancava com uma verdadeira “pista de dança” entre países, com um denominador comum: podem as danças urbanas e/ou tradicionais de um determinado país falar sobre a cultura e realidade do seu povo? Ser uma montra da diversidade e da multiplicidade de uma nação, um espelho da evolução de um povo, reflexo de uma sociedade em constante mutação? 


Nesses espetáculos, que colocaram África do Sul a dialogar com Portugal (e com o mundo, de resto), a dança mostrou ser uma embaixadora eficiente das mudanças que a sociedade impõe aos seus povos. Um dos espetáculos que a companhia sul-africana Via Katlehong apresentou em setembro no palco do Rivoli tinha assinatura do português Marco da Silva Ferreira que, nos meses anteriores, mergulhou nas danças de “origem afro-americana (popping, new style, krump, house) e no kuduro, um estilo de Angola” para um trabalho sobre as novas nuances da dança urbana local. 


Por ocasião da estreia nacional da peça, o coreógrafo revelou que a “pesquisa se tem centrado muito em elementos do clubbing, continua relacionada com o sentido e o significado que a dança tem no contexto social ou na construção de uma identidade coletiva através da dança”. 



Agora, em outubro de 2022, um mês depois da última passagem pelos palcos da cidade, o Teatro Municipal do Porto volta a acolher o coreógrafo e bailarino para um novo espetáculo em nome próprio: “C A R C A Ç A” junta 10 bailarinos em palco, dois músicos ao vivo e uma viagem “entre o passado e o presente, o footwork [trabalho de pés] e o folclore”

 

Danças de rua e danças tradicionais 


“A carcaça é aquela forma que fica de uma coisa que já foi viva. Tem uma relação direta com o passado, com uma forma sobre a qual se podem tirar ilações. Quando vemos a carcaça de um dinossauro, conseguimos imaginar qual seria a sua pele”.  


Marco da Silva Ferreira parte do trabalho de pernas (footwork), oriundo do clubbing, dos balls, das battles, das cyphers e do estúdio, para o aproximar e revisitar as danças folclóricas padronizadas, traçando discursos entre o que herdaram e o que vivem.  


“Nesta peça”, continua o coreógrafo, “queria trabalhar a partir do footwork, do clubbing e das danças de rua contemporâneas, e cruzá-lo com o trabalho vertical do corpo e aquilo que dizem ser a minha herança: o folclore europeu. Com este encontro, procuro provocar o pensamento sobre a construção de uma identidade coletiva”.  



Com 10 bailarinos em palco – entre eles o próprio autor – e com a música de João Pais Filipe e Luís Pestana, o espetáculo aborda as danças que surgiram no meio social que absorvem o contexto socioeconómico, político e étnico que refletem a atualidade da comunidade. Desse encontro surgem vozes que se cruzam com sintetizadores, gaitas de foles e instrumentos tradicionais portugueses.  


“O que procuro neste trabalho é provocar o encontro entre estas danças sociais contemporâneas que constroem comunidades e que definem grupos de pessoas num determinado território”, destaca Marco da Silva Ferreira.  


Para ver nos dias 21 e 22 de outubro, às 19h30, no Teatro Rivoli e os bilhetes estão à venda nas bilheteiras do Teatro Municipal do Porto ou na Bilheteira Online.  


A entrevista do coreógrafo ao site do Teatro Municipal do Porto pode ser lida aqui.


Texto: José Reis

Fotos: José Caldeira / TMP

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