10/08/2022

A 16 e 17 de setembro, o palco do Rivoli acolhe a estreia nacional de dois espetáculos da companhia Via Katlehong, com coreografias de Amala Dianor e Marco da Silva Ferreira.  

 

É o “quilómetro zero” da viagem que promete ser intensa nos próximos meses, é o ponto de partida de uma temporada que nos levará a um sem número de universos (reais e utópicos). O Teatro Municipal do Porto (TMP) convoca para este momento várias geografias, unidas num único objetivo: celebrar o prazer da dança como manifestação e afirmação de um povo (individual e coletivo), mostrando que “um mundo melhor é sempre possível”. 


Via Injabulo” é a forma perfeita de marcar o reencontro de todos (com todos). Esta expressão em zulu, que abraça os dois espetáculos que a companhia sul-africana apresenta no Porto pode ser traduzida como “alegria”. É o sentimento que invade o público, contaminado pelo entusiamo que se sente e vê em palco, no arranque da temporada 2022/23 do TMP, a 16 e 17 de setembro, no Rivoli. 



Para celebrar 30 anos de vida, a companhia Via Katlehong – que tem o nome de um bairro situado na cidade de East Rand - convidou dois coreógrafos com identidades artísticas diferentes para a criação de dois espetáculos que cruzam o mundo de um lado ao outro: o português Marco da Silva Ferreira – velho conhecido do TMP como artista associado das temporadas 2017/18 e 2018/19 – e o franco-senegalês Amala Dianor – que vimos em palco na edição de 2018 do DDD – Festival Dias da Dança

 

Dança urbana como base 


Como desafio, a companhia convidou os autores a criar livremente os seus trabalhos, mas com uma base comum: a pantsula, uma dança ultra-energética surgida durante o período do apartheid, nos anos 50 e 60, e que depressa se tornou uma forma de protesto usada pela população. Mais do que uma dança, a pantsula tornou-se um estilo de vida e afirmação dos jovens sul-africanos, invadindo a linguagem, os códigos da sociedade, a música e a moda.


  

A partir desta dança, praticada pela companhia em interseção com outros estilos, como o sapateado, o gumboot e o step, Amala Dianor criou “Emaphakathini”, um “espaço intermédio”, na tradução do zulu. Neste espetáculo – uma das “duas faixas” desta via -, Dianor parte das histórias pessoais dos bailarinos para derrubar as barreiras existentes entre a população e a dança. “A minha intenção é aproveitar as personalidades e histórias individuais de cada intérprete, assim como o nosso encontro. Procurarei esses ‘entremeios’ que abrangem a dança tradicional e urbana, recorrendo, desta feita, à herança técnica das danças da África do Sul”, assume o coreógrafo. 



Marco da Silva Ferreira apresenta “førma Inførma”, uma poção para a identidade coletiva a partir de uma dança comum, uma memória cultural e política feita de revolta e vontade de viver. “A minha formação enquanto bailarino e artista baseou-se inicialmente em danças de origem afro-americana (popping, new style, krump, house) e no kuduro, um estilo de Angola”, revela o coreógrafo. “Apesar de, nos últimos anos, a minha pesquisa se ter centrado muito em elementos do clubbing, continua relacionada com o sentido e o significado que a dança tem no contexto social ou na construção de uma identidade coletiva através da dança”. 



Esta verdadeira “viagem à volta do mundo” será apresentada em setembro, a 16 (às 21h30) e 17 (às 19h30), no Grande Auditório do Rivoli. O espetáculo é apresentado no âmbito da Temporada Cruzada Portugal-França 2022.

  

Mas a festa não termina em palco, continuando depois no Café Rivoli, na sexta-feira, 16 de setembro, com a “Kuze Kuse Party”, a partir das 22h30, de entrada livre. Um convite a que não deixemos esta celebração terminar, já que será “uma festa até ao final da noite”, numa tradução livre do zulu.  


Texto: José Reis

Fotos: DR

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