05/07/2023

Dos bosques da Hungria para o Estádio de Praia do Porto, o teqball está em destaque neste fim de semana, 8 e 9 de julho, com o circuito nacional a reunir algumas das esperanças da atualidade. Falámos com dois teqballers da cidade que prometem dar que falar nos próximos anos para descobrir em que consiste este desporto.

 

O teqball foi inventado em 2014 por uma dupla improvável - Gábor Borsányi, antigo futebolista profissional, e Viktor Huszár, cientista computacional. Em comum tinham a paixão pelo futebol e foi a partir daqui que a nova modalidade começou a ser criada. O teqball não é propriamente futebol, mas também não é ténis, apesar de ser jogado com uma mesa de tampo (curvilíneo) e uma rede (rígida).

 

Apesar de ser uma modalidade ainda pouco conhecida do público, em apenas nove anos evoluiu de uma forma exponencial, de tal modo que este desporto é já praticado em mais de 100 países. Portugal não é exceção e um pouco por todo o país crescem associações e clubes que têm vindo a apostar nesta nova disciplina.

 

 

No Porto, o teqball tem já atletas de referência masculinos e femininos que alinham nas principais provas da modalidade. A dupla imbatível do teqball nacional foi Raul Meireles e Bosingwa, antigos futebolistas do Futebol Clube do Porto, que já não estão no ativo mas contribuíram em grande parte para que a modalidade começasse a dar os primeiros passos e a ser conhecida a nível nacional. Mas há jovens promessas a dar cartas nos maiores palcos internacionais. A atual geração de jogadores está bem representada por Manuela Parente e Rayan Steglich, atletas do Porto. Da Seleção Nacional à grande arena do Estádio de Praia, desafiámos os dois atletas a mostrarem o que valem num final de tarde ventoso.

 

O que é o teqball?

 

Manuela Parente (MP): Apesar de ter sido criado há apenas dez anos na Hungria, é atualmente a modalidade que mais cresce no mundo. É um desporto muito dinâmico, pode ser jogado em duplas [femininas, masculinas ou mistas] ou individualmente. E, apesar de ter bastantes regras, tem um grande poder de atratividade. Pode ser jogado por pessoas de qualquer idade e género na vertente mais lúdica e competitiva. Em Portugal, o desporto chegou em 2019 por um húngaro [Karoly Henczi, atual presidente da Federação Teqball Portugal]. Aqui é mesmo muito recente.

 

A missão portuguesa em Cracóvia chegou a casa com 15 medalhas. O teqball não foi uma das modalidades medalhadas, mas saíram de lá com resultados bastante positivos. Auguram voos mais altos?

 

MP: Pela primeira vez, o teqball esteve representado nos Jogos Europeus de Cracóvia nos quais tive a honra de representar a primeira seleção portuguesa desta modalidade. Na Europa, existem países que estão já a um nível competitivo muito alto. Foi uma experiência incrível, demos um grande passo para a evolução deste desporto nestes jogos europeus. Joguei em pares, ficamos em quinto lugar [Parente alinhou em dupla com Carla Couto, antiga futebolista internacional portuguesa, e com Luís Santos].

 

O grande objetivo é ter o teqball representado nas Olimpíadas?

 

MP: Queremos chegar aos Jogos Olímpicos! As federações de vários países e a FITEQ - Fédération Internationale de Teqball têm trabalhado bastante para que este desporto chegue a Los Angeles em 2028. Já existem milhares de praticantes em todo o mundo, os EUA, o Brasil, a Hungria são países muito fortes, assim como Roménia, Polónia, França, Tailândia. Aliás, no continente asiático, o teqball está a ter muita adesão. Aqui em Portugal, tanto a Federação, como os clubes e associações trabalham continuamente na divulgação da modalidade. No Porto, foi criada a primeira academia de teqball - a PlayTeq – no Académico Futebol Clube e desde então não temos parado.

 

 

Como é divulgada a modalidade e como são feitas as captações de novos atletas?

 

Rayan Steglich (RS): Temos dinamizado várias ações e formações, inclusive nas escolas. Desde que o Académico abriu as portas a este desporto, começámos a receber várias pessoas que tinham curiosidade em aprender e começar a jogar. Nesta academia damos treinos específicos, aulas, formações, fazemos exibições e é desta forma que, junto de escolas, divulgamos o desporto.

 

E como é que é aceite?

 

RS: Há muita recetividade, logo no primeiro contacto a vontade é ir logo experimentar. Está a ser uma experiência fantástica contribuir para divulgar a modalidade a centenas de jovens.

 

MP: Temos também feito muita divulgação aqui no Estádio de Praia, na inauguração e na competição de hóquei de praia, no passado fim de semana. Esta promoção ao ar livre e nas escolas é um caminho. Muitos miúdos já conhecem, outros querem saber como se joga. O facto é que vivemos atualmente um momento muito importante na divulgação da modalidade. Este é um desporto para todos e para as meninas, principalmente. Vi, neste desporto, uma oportunidade para evoluir como atleta, quero transmitir isso a outras desportistas.

 

 

E é preciso saber jogar futebol para praticar teqball?

 

MP: Não! Venho do voleibol. O Rayan veio do futebol de 11. Encontrei-me neste desporto e sou apaixonada pelo teqball.

 

Quem são os grandes embaixadores do teqball mundial?

 

MP: O Ronaldinho Gaúcho é um grande embaixador da Federação Internacional. Há uma estratégia muito forte de divulgar a disciplina através do futebol, aliás, quase todos os grandes clubes têm já uma mesa de teqball para treino. Mas, ao mesmo tempo, passa uma imagem recreativa, e é preciso entender que este desporto tem já uma vertente competitiva muito forte.

 

RS: Como atletas temos as nossas referências. A Hungria, a Sérvia e a Roménia são muito fortes, estão sempre presentes nos mundiais e a disputar os principais títulos. O campeão mundial, Apor Gyoergydeak, os sérvios Bogdan Marojevic e Nikola Mitro são nomes a reter. Os brasileiros também estão a chegar ao topo como o Rodrigo Medeiros e o Mateus Ferraz, a Natália Guitler e a Rafella Fontes.

 

E em Portugal?

 

RS: Nos masculinos temos o António Henriques, o João Pinheiro, Luís Santos, eu (risos) e, claro, Dionísio Gonçalves, atleta do norte muito importante na difusão da modalidade. Na vertente feminina, além da Manuela Parente, a Ana Silva, do Porto, a Stephanie Brito, que mora nos Estados Unidos da América, mas compete por Portugal, a Carla Couto, ex-futebolista da Seleção nacional.

 

 

E como está o teqball feminino português?

 

MP: Cada ano tem evoluído mais. Chegámos a organizar uma prova aqui no Porto em 2021 e o que sofremos para ter categoria mista com jogadoras! Fizemos uma etapa apenas com três atletas. A partir de outubro de 2022, a federação organizou duas qualificativas para o campeonato do mundo, pela primeira vez com categoria feminina e, desde então, a modalidade tem dado um salto quantitativo nesta categoria.

 

Este também é um desporto muito inclusivo?

 

RS: Temos jovens de 16 anos a jogar até mais velhos com 50 anos. É para qualquer idade, género, cultura e religião. Todos podem jogar. A Federação Internacional tem feito um trabalho muito interessante com o parateqball, abrangendo o universo dos atletas do desporto adaptado.

 

Quais são as vossas ambições neste desporto?

 

RS: Quero muito representar Portugal nos próximos mundiais.

 

MP: Já estou na Seleção Nacional representei a nossa bandeira no último campeonato do mundo e nos europeus. Já começaram as etapas de qualificação para o Mundial deste ano, que deverá ser no final do ano na Tailândia. Vou participar em duas etapas de qualificação no feminino e três qualificativas na categoria mista

 

O que podemos esperar este fim de semana no Estádio de Praia do Porto?

 

MP: Esta vai ser a primeira vez que acontece um circuito de beach teqball no Porto e com o apoio do município. Temos convocados atletas não só do universo teqball, mas também do futevólei. E esta vai ser a primeira vez, até para mim, a jogar na areia. Estamos muito entusiasmados e à espera de um grande espetáculo com grande envolvência do público e muita animação paralela.

 

Entrevista: Sara Oliveira

Fotos: Rui Meireles 

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