É um novo espaço de intervenção com uma mensagem mundial: o mar é para cuidar, porque só preservando a diversidade da fauna e flora se garante um melhor futuro para o ser humano. Numa parceria entre a empresa municipal Ágora, a Águas e Energia do Porto e a Divisão Municipal de Gestão Ambiental da Câmara do Porto, nasceu, na Escola Secundária Garcia de Orta, um novo espaço de partilha, com ideias pintadas a várias mãos. A autora será agraciada com uma Medalha de Mérito da cidade, na cerimónia marcada para este domingo.
É preciso ter atenção máxima ao ângulo escolhido, para que a fotografia que registemos capte o máximo possível do trabalho realizado. Deve focar os diversos elementos, as cores e as formas, a relação entre elas, numa perspetiva mais de longe, agora mais ao perto, “mais perto ainda”.
Rafi die Erste, pseudónimo de uma artista urbana da cidade que o usa para camuflar deliberadamente a verdadeira identidade, olha para o trabalho terminado com sentido de dever cumprido. Foi desafiada pelas empresas municipais Ágora e Águas e Energia do Porto - responsável por dinamizar todo o trabalho inerente ao programa da Associação Bandeira Azul Europa - e pela Divisão Municipal de Gestão Ambiental da Câmara do Porto para desenvolver, na Escola Secundária Garcia de Orta, um trabalho colaborativo de forte consciência ambiental e social com os alunos da disciplina de Artes.
“A ideia era fazer uma campanha de sensibilização para o ciclo da água. Quando cheguei, mostraram-me desenhos e imagens que tinham pensado para este trabalho, sempre com a intenção de pintar um mural que celebrasse a riqueza marítima da nossa costa”, revela a artista, ao lado da professora Graça, cúmplice em tornar a entrada da escola mais divertida e consciente – e, ao mesmo tempo, mas igualmente importante: menos cinzenta.
Neste trabalho, realizado em tempo recorde “pelo empenho de todos os intervenientes”, não foi esquecido o sentido crítico de cada colaborador. “É muito importante ser único. Todos somos únicos e devemos abraçar essa diferença. No entanto, só faz sentido quando pensado num todo, onde tudo está ligado. É isso que aqui valorizamos: a individualidade numa relação necessária com o outro”, destaca a artista.
A escola, com características que a tornaram emblemática (as escadas com vários lanços) e que foram o palco de estudos de políticos a artistas reconhecidos da nossa praça, ganhou ainda novos contornos na parede em frente à entrada: uma grande boneca, de tons garridos, “ao lado do roseiral do senhor diretor”, uma das imagens de marca do trabalho de Rafi.
“Fui tão mimada aqui, desde a laranja descascada que me traziam a meio da tarde até aos almoços na cantina servidos pela dona Olinda, não posso apontar nada de mal à forma como fui recebida ”. A tal boneca, que deixou como herança, serve como agradecimento, mas, acima de tudo, como inspiração para os alunos que encontram nela uma referência. “Não tenho nada esse sentimento de ‘ego’ que os artistas têm. Quando vejo o meu trabalho pela cidade, são as memórias que regressam ao meu pensamento. Lembro-me de todo o processo, do que as pessoas fizeram por mim em cada trabalho. Fico muito agradecida por isso”, diz a artista. “Não sou nada vaidosa com os meus trabalhos. Pintar é quase como rezar. É como se estivesse em comunhão com a parede, alheada do resto e entregue apenas ao trabalho”, finaliza.
O Porto também lhe reconhece esse valor. Neste domingo, 9 de julho, será uma das 44 personalidades e entidades a quem a autarquia atribuirá as Medalhas da Cidade deste ano. Um momento histórico: será a primeira vez que uma artista urbana é contemplada com este título na cidade. E, também por isso, Rafi escolheu um “vestido muito especial, feito em Cabo Verde”, para esta cerimónia. Para não mais esquecer
Texto: José Reis
Fotos: Rui Meireles