28/07/2022

A Piscina Municipal da Constituição comemora nesta quinta-feira 55 anos. De portas abertas há mais de cinco décadas, disponibiliza à população do Porto (e não só) inúmeras atividades aquáticas e de ginásio. Por dia, recebe cerca de 500 alunos de todas as faixas etárias e nos “bastidores” são cerca de 30 as pessoas que fazem esta “máquina andar”. Fomos conhecer o dia a dia deste equipamento municipal e descobrir todo o trabalho que não se vê, mas que é essencial para que todos os dias as portas possam abrir ao público.


Inaugurada a 28 de julho de 1967, a Piscina da Constituição sofreu, em dezembro de 1997, uma remodelação profunda. Seguiram-se muitos anos e muitas mudanças e hoje é um dos equipamentos desportivos mais bem apetrechados da cidade. Conta com um corpo docente altamente qualificado e tem implementado, à semelhança de todas as estruturas incluídas na Rede Municipal de Piscinas, um sistema de gestão da qualidade certificado.



Às 08h10 há já um “entra e sai” constante de alunos e, para alguns, a manhã já vai longa. O dia de trabalho não pode começar sem um treino de natação ou de ginásio. As portas abrem às 07h00 e há pessoas a trabalhar desde as 06h00, garantindo que a limpeza das instalações e a qualidade da água estão asseguradas. 


Tânia Almeida é rececionista desde 2001 e assume que gosta muito do que faz. O trabalho dos rececionistas nem sempre é visível para o público e “há sempre coisas para fazer”, garante. A lista de tarefas é imensa e passa por “ligar os computadores e garantir que as pessoas podem entrar, inserir os dados das aulas do dia anterior no sistema, atender telefonemas, responder a e-mails, guardar pertences que ficam esquecidos, verificar se o DAE (Desfibrilhador Automático Externo) está a funcionar e fazer o registo”, numa enumeração quase sem fim. 


A conversa é permanentemente interrompida com os “bons dias” a quem vai chegando. Durante as manhãs, a piscina é maioritariamente frequentada por pessoas mais velhas. À tarde, o espaço é ocupado pelas crianças. Tânia confessa que “a interação com os alunos é muito gratificante” e faz questão de tratar todos pelo nome. “Se para os mais velhos nós somos uma grande companhia, porque estão muitas vezes sozinhos, com as crianças é muito bom vê-las crescer”, diz. Para a rececionista, a Piscina da Constituição é “como uma família” e onde “as pessoas são felizes”.



Pedro Cerqueira é o responsável pela manutenção da piscina e faz este trabalho desde 2009. Considera um trabalho “tranquilo, mas a rotina quase mecanizada pode ser um inimigo”, confessa. Qualquer distração pode fazer com que um processo seja deixado a meio e condicionar o funcionamento das máquinas. Pedro é, a par da equipa de limpeza, o primeiro a chegar à Constituição. 


Na casa das máquinas, a primeira coisa a fazer é verificar os monitores e analisar os números que aparecem. Logo de seguida, há que lavar o filtro da piscina grande (num processo que consiste em inverter o circuito habitual – a chamada “retrolavagem”). No caso da piscina pequena, o processo está automatizado, sendo apenas necessário programar a máquina para o efeito. Depois, há que tratar das concentrações de desinfetante para injetar na água.


Na zona do cais da piscina, verificam-se os planos de água, no sentido de perceber se há alguma anomalia. É ainda necessário efetuar os registos, que são muitos, não só da temperatura e ph das águas, mas também dos contadores que garantem a renovação da água diariamente. Uma vez por mês, Pedro assegura a limpeza dos pré-filtros, local onde ficam depositados objetos de maior dimensão que entram no circuito da água: pedaços de borracha dos equipamentos, cabelos e até brincos.



O trabalho de Pedro é fundamental e determina se a piscina tem condições para abrir ao público. Felizmente, na maioria dos dias, os valores são normais e o trabalho passa pela manutenção, mas “quando há algum problema, tem de ser imediatamente reportado e, se não o conseguirmos resolver, a piscina não abre”, explica. “As regras das piscinas municipais são muito apertadas e, por isso, não há margem para as coisas estarem ‘mais ou menos’. Tem de estar tudo de acordo com os parâmetros obrigatórios”, acrescenta.


“A parte mais gratificante de trabalhar aqui é a satisfação que tenho por ver pessoas felizes e o que me preocupa é o bem-estar de todos os que estão aqui: dos alunos, por um lado, e dos professores e funcionários, por outro.”


Luís Marques começou como professor em 1999 e é hoje o diretor técnico da Piscina da Constituição. Começa o dia a fazer um check-up às instalações: “vou à zona técnica confirmar se há alguma anomalia, verifico a limpeza, as torneiras, as luzes e as máquinas do ginásio”, explica. Ao longo do dia, vai recebendo o feedback da receção e dos professores e gerindo as situações que vão acontecendo.


Confessa que “ainda há um rótulo negativo associado às piscinas municipais, como sendo uma estrutura com pouca qualidade, mais barata, mas com menos equipamento, com más instalações”. O seu desafio passa por “por fazer desaparecer essa imagem negativa”, o que tem vindo a ser possível ao longo dos anos, não só “pela qualidade das instalações que temos, mas essencialmente pela qualidade e diversidade de aulas que oferecemos”.



Luís conhece as instalações como a palma da sua mão e, enquanto mostra os cantos à casa, revela-nos algumas curiosidades. A zona de perdidos e achados é desconhecida para muitos, mas obriga a um trabalho diário de recolha, identificação, descrição e catalogação. Com centenas de alunos, os objetos perdidos são os mais variados: fatos de banho, calções, toalhas, toucas, chinelos e muitos outros.


Luís é uma das primeiras caras da Constituição e, em momentos mais tensos, é quem é chamado para uma primeira resolução: “Muitas vezes, eu não tenho uma solução para dar às pessoas naquele momento, mas devo-lhes uma palavra verdadeira e, sobretudo, não as posso deixar sozinhas”. Nessas alturas, o espírito de equipa vem ainda mais ao de cima e todos vestem a camisola. São uma verdadeira equipa e criar memórias positivas continua a ser um lema.


Explica que a atualização e a modernização são essenciais para “ir ao encontro das expectativas de quem nos procura”. Mais qualidade, mais diversidade, mantendo a interação próxima entre professor e aluno, é um dos desafios diários que Luís enfrenta. Vê hoje pais que foram seus alunos, a quem ensinou a nadar, e que agora trazem os filhos: “isso só pode ter uma razão: confiança na qualidade dos serviços prestados”. Esses adultos de hoje “têm memórias positivas da piscina e recordam com muito carinho o crescimento delas aqui dentro”, acrescenta.



A conversa desenrola-se e as palavras mostram o imenso orgulho que tem nesta piscina e na equipa que dela faz parte. Relembra a formação que todos os professores e nadadores-salvadores têm e exibe os quadros que os identificam na zona de espera. “Temos os melhores professores do mundo”, atira.


Os professores


Firmino Leal tem 29 anos e é nadador-salvador. Depois de uma passagem pela Piscina de Cartes, em 2016, veio para a Constituição. Trabalha sempre no turno da manhã, das 7h00 às 15h00, de segunda a sábado. “É um trabalho de acompanhamento e de vigilância, mas também de orientação, sobretudo nos aderentes de utilização livre”, explica. Ao longo destes anos, Firmino nunca precisou de auxiliar ninguém dentro de água, mas “é habitual serem precisos primeiros socorros: pessoas que se sentem mal e entorses, por exemplo”. 



Inês Silva é professora na Piscina da Constituição há quase dez anos, tempo suficiente para conhecer a “casa” e as suas melhorias. Considera estes anos “positivos, não só a nível de estabilidade profissional, mas também das condições da piscina, que são hoje muito melhores do que eram há uns anos”. 

Durante alguns anos, assegurou as aulas de natação para bebés, reconhecendo que é “extraordinário e gratificante fazer este acompanhamento e vê-los crescer”. A satisfação é enorme quando os pais regressam para inscrever um segundo filho e procuram pela professora Inês: “é sinal de que gostaram do meu trabalho e que fui, de certa forma, importante numa determinada fase da vida daquela família”. No final do dia, o dever é cumprido “porque os miúdos (e os mais velhos também) saem felizes e acabam por ter uma experiência positiva”, remata. Em jeito de conclusão, diz-nos com grande satisfação: “A prova de que gostaram é que no dia seguinte estão cá outra vez, ano após ano”.


João Bento tem 25 anos e dá aulas da Constituição há cinco. “A experiência é muito positiva. Há utilizadores de todas as idades e com diferentes motivações e isso obriga a que nos tenhamos de adaptar e sair da nossa zona de conforto”, diz. A polivalência de dar quase todas as aulas, aquáticas e de ginásio, é uma vantagem, mas também um desafio. João reconhece que “é bom olhar para uma criança, vê-la a saltar de nível em nível, a evoluir, e saber que fui eu quem a ensinou a nadar”. Depois de um dia de trabalho, a missão deste professor é cumprida quando vê as pessoas contentes: “É sinal de que se divertiram, porque saem daqui felizes e voltam”.



Os alunos


A batida que se houve não engana: a aula de hidroginástica está a decorrer a bom ritmo. Ao lado, acontece ainda uma aula de natação e estão vários alunos em regime de utilização livre. Manuela tem quase 70 anos e faz aulas de hidroginástica e pilates na Piscina da Constituição desde 2016. “Vim depois de fazer uma cirurgia à anca e saio sempre daqui muito bem-disposta”, diz-nos mal sai da água. Vem todas as terças e quintas à piscina, mas sobre o que mais gosta tem dificuldade em definir: “Gosto dos colegas, dos professores, gosto de tudo. É sempre um bom começo de dia”.


No ginásio encontramos Rute. Aos 47 anos, vai à Constituição há muito tempo e prova disso é o seu cartão de aluno: apresenta o número 26. Foi nesta piscina que aprendeu a nadar. Agora, vem quase todas as manhãs para a aula das 7h15 e, quando pode, continua depois para as máquinas do ginásio. Durante os meses de verão, os filhos vêm com ela. Francisco e Alexandre têm 15 e 17 anos, respetivamente, praticam andebol e, depois de o campeonato acabar, aproveitam o ginásio da Constituição para treinar. “Somos todos uma grande família e este é um começar de dia em grande e que vale a pena”, porque se consegue “mais energia para o resto do dia”. O ambiente “mais descontraído”, onde todos estão “mais à vontade” faz com que seja “impossível desistir”, refere Rute.



António Costa tem 19 anos e também aprendeu a nadar na Piscina da Constituição “quando era pequenino”. Voltou em fevereiro deste ano para usufruir do ginásio. A proximidade com o local de residência e os preços atrativos são uma mais-valia, mas o que faz a diferença é “o ambiente ser incrível, e as pessoas muito disponíveis”. Depois de tantos anos longe deste espaço, “agora é para continuar”.


Débora Medeiros tem 26 anos e frequenta a Constituição apenas há um mês e meio. Inscreveu-se porque sentiu “necessidade de fazer exercício físico e cuidar da saúde”, mas também porque “é próximo de casa”. Vai três vezes por semana e faz treino no ginásio e de natação. “Quando vim, pareceu-me tudo muito agradável e as pessoas muito simpáticas. Gostei e comecei a fazer com mais frequência”, confessa. Os preços acessíveis e a qualidade dos aparelhos e da estrutura são essenciais, “mas o que faz a diferença e o que motiva são as pessoas”. 


Arminda Alves tem 78 anos e frequenta o programa municipal No Porto a Vida é Longa (NPVL) com aulas de zumba e pilates, mas o que queria era fazer hidroginástica. Com a amiga Maria Albina, de 77 anos, aguarda pelo início da aula de pilates. De conversa fácil, as duas amigas dizem gostar de tudo. Frequentam as aulas “há muitos anos, desde o tempo do Palácio de Cristal”. São unânimes em reconhecer a importância destas aulas nas suas vidas: “É muito importante para nós. E durante os dois anos de pandemia sentimos muita falta das aulas e de estar com as pessoas”.



Joana Teixeira tem 35 anos e frequenta hidroginástica e zumba há cinco anos na Piscina da Constituição. A filha, Inês, teve o primeiro contacto com a água nas aulas de natação para bebés deste equipamento municipal. Com cinco anos, mantém as aulas de natação a que juntou as de dança. Diz-nos timidamente que gosta muito “das aulas de natação e do professor Filipe”. Para esta mãe, “a Constituição é mesmo uma família: é um espaço acolhedor, que nos recebe todos os dias muito bem”. As instalações e o ambiente agradável da Constituição aliam-se à “segurança necessária para a prática do desporto”, reforça Joana. 


As portas fecham ao público às 22h00, mas até às 23h00 há trabalho a fazer. A equipa de limpeza, apesar de estar em permanência na instalação, assegura que o dia só termina depois de estar tudo limpo. As luzes apagam-se, apenas por algumas horas, mas as máquinas não param. É assim há 55 anos, num livro com muitas páginas e que está cheio de personagens, mas que tem ainda muitas histórias por contar. 



Texto: Catarina Madruga

Imagem: Rui Meireles e Arquivo Municipal do Porto

Ver também
Notícias