22/11/2021

Na parte de trás de um prédio na rua da baixa da cidade, que foi antiga morada do Instituto Pasteur, nasceu, há quatro anos, um atelier de arquitetura que se estende a outras áreas – e as apresenta a quem as queira conhecer. O INSTITUTO é obra de um arquiteto da cidade que, ao ver o espaço “grande demais para o que procurava”, decidiu repensar a sua ideia. O local nasceu em 2017. Em 2021, é um dos locais apoiados pelo programa municipal Criatório.

 

Os segredos mais bem guardados de uma cidade (qualquer que ela seja) são aqueles que ainda não se conhecem.


Aqueles que se escondem por detrás das camadas que saltam à primeira vista, aqueles que não são facilmente descortinados a olho nu.


Quantos de nós não conhecem um edifício que se esconde sobre outro edifício, um jardim luxuriante nas traseiras de uma casa que deixa pouco à imaginação ou um espaço desafogado que se abre sobre caminhos exíguos? Esses são os segredos (mais) bem guardados de uma cidade.


O Porto não é exceção. Quantos são os segredos que já conhecemos – e deixaram de o ser - e quantos são aqueles que ainda desconhecemos?


 

Espaço com história


Paulo Moreira descobriu um deles, em 2017. Nas traseiras de um edifício na Rua dos Clérigos, no coração da cidade.


Encontrou-o “por acaso” e, com o olhar treinado que tem para avaliar a potencialidade do espaço - é arquiteto -, pensou que aquele poderia ser um espaço com potencial para algo que gostaria de desenvolver.


“Encontrei este edifício em 2017, quando procurava um espaço para instalar o meu estúdio de arquitetura. Apesar do conjunto ser maior do que sonhava, senti uma atração imediata pelo espaço. Resolvi avançar e criar um projeto mais amplo, que expandisse e complementasse a prática do atelier”, revela Paulo Moreira.


Foi assim, do olhar à prática, que nasceu o INSTITUTO (assim mesmo, com letras maiúsculas), um espaço multidisciplinar que perpetua, no nome, a sua história.


“O edifício original foi concebido na década de 1950 pelo reconhecido arquiteto e engenheiro Júlio de Brito, responsável por projetos marcantes nas redondezas, entre eles o Teatro Rivoli, a Confeitaria Ateneia e o Café Aviz”, conta-nos o arquiteto, logo acrescentando que “ali funcionavam os armazéns farmacêuticos do Instituto Pasteur, num conjunto peculiar de pequenas naves industriais, precedidas por dois anexos e um pátio generoso.”


Na hora de decidir o “nome da criança”, não houve dúvidas: “daí o nome: INSTITUTO”.


 

Exposição no local


A “criança”, a que já aludimos, tem hoje quatro anos. Já descobre coisas “sozinha” e permite contaminar-se com outras experiências.


É muito mais que um espaço de trabalho. É um espaço de experimentação. Pura e dura.


“É um ponto de encontro de diversas formas de expressão cultural. Partindo do campo da arquitetura, a programação aborda as artes visuais e espaciais, pensamento crítico e cruzamentos disciplinares”, assume Paulo Moreira, acrescentando que este espaço “potencia(rá) a criação e a pesquisa de novos discursos contemporâneos.”


O projeto andou, a família cresceu. Depois de um ano de atividade, em 2018, constituiu-se a Tamanho Azul – Associação, entidade que passou a gerir o espaço.


Da equipa, e para além de Paulo Moreira, fazem ainda parte a programadora Joana Graça, o designer gráfico Pedro Ponciano, o fotógrafo Ivo Tavares e os assistentes de produção João Ana e Joyceline Teixeira.


Todos juntos pensam de que forma o INSTITUTO pode caminhar em frente. Não estagnar nos lugares-comuns, ser um local de reflexão, permitir que mais se juntem a esta viagem.



Atualmente, o local é ocupado pela exposição “Não é Nada é Isto Tudo”, um conjunto de imagens desenvolvido pelo Coletivo Guarda Rios que procura demonstrar a forma como nos estamos a apropriar dos rios, de forma indevida, e de que forma eles devem ser tratados com partes fundamentais na sobrevivência humana.

 

Futuro próximo


Neste momento, a equipa está a preparar um programa público de debates, exposições e oficinas, a realizar ao longo do ano de 2022.


“O programa procura promover e difundir práticas arquitetónicas e seus cruzamentos com as artes, representativas de visões inclusivas sobre o espaço construído e as pessoas que nele habitam, em continuidade com o trabalho que tem vindo a ser realizado pela entidade”, admite Paulo Moreira.


Mas um espaço que se quer aberto ao mundo não pode viver de forma autista, de costas voltadas para uma criatividade crescente.



E para isso é fundamental o projeto colaborativo que está a afirmar com “a Rampa e o InterStruct Collective, como parte da rede europeia Vaha, e que envolve parcerias com instituições da Ucrânia e da Turquia”.


Mais ainda: o espaço acolhe a residência artística da arquiteta Julia Stromland, ao abrigo de um programa do Statens Kunst Fond.


“E de seguida, teremos outra jovem arquiteta, a Cassandra Macchiavelli, ao abrigo de um protocolo estabelecido com a agência pública sueca de apoio às artes, IASPIS”, conclui Paulo.


Um espaço escondido, um segredo bem guardado, um espaço com portas fechada à rua – mas com as traseiras totalmente abertas ao mundo.


O INSTITUTO funciona de segunda a sexta-feira, das 10h00 às 18h00. Ou por marcação, porque as portas, apesar de escondidas, estão sempre abertas a quem queira ser surpreendido.


Mais informações: http://oinstituto.pt

Ver também
Notícias