O pavilhão do Agrupamento de Escolas Garcia de Orta acolhe, neste domingo, mais uma edição do Festival de Ginástica da AEGO Sport. Nesta quarta edição, as diferentes classes da modalidade encontram-se para uma demonstração das técnicas e conhecimentos que, dia após dia, aprendem aqui, sob o olhar atento dos professores. Sob o tema “Os Musicais”, a AEGO SPORT promete surpreender, mais uma vez, familiares, amigos, conhecidos, interessados ou simples curiosos. O que leva alguém a dedicar parte do seu dia a esta modalidade? Fomos assistir aos treinos de diferentes escalões, a poucos dias desse momento especial.
Quando Bruna Mota chegou ao clube, há precisamente dez anos, não existiam as condições que hoje a academia apresenta. Não havia classes de competição, não havia lotações esgotadas, não havia um espírito tão empreendedor e uma atitude tão vencedora. Na altura, com 8 anos, Bruna, hoje a mais velha do grupo e um exemplo para as novas gerações, chegou ao AEGO Sport depois de ter mudado de escola, mas já com conhecimentos nesta área.
“Comecei a praticar ginástica na minha antiga escola quase por acaso. Experimentei e gostei, mudei de escola e decidi continuar”, revela hoje, aos 18 anos.
Para ela, qualquer que fosse o local, o obrigatório era manter o foco na ginástica. “Sempre me interessou aprender coisas diferentes, testarmo-nos e superar os diferentes desafios”. À frase feita, a jovem atleta acrescenta outras razões que ajudam a explicar esta prática continuada.
“Sempre fui muito ansiosa. A ginástica ensinou-me a focar, a concentrar-me no essencial, no que é mais importante. Ajudou-me a entender o quão importante é trabalhar para algo, termos a noção de grande compromisso com alguma coisa”, destaca.
Esse foco levou que ordenasse as ideias, que as tornasse mais claras, que definissem melhor o caminho a seguir. Desde o ano passado que é estudante de Medicina, curso que sempre quis frequentar. Com um sorriso no rosto, não tem dúvidas quanto ao futuro, mas admite que a ginástica será para manter, “até que seja possível conciliar as duas áreas”.
Classes de todas as idades esgotadas
Bruna é hoje a mais velha de um grupo heterogéneo de praticantes, que vai “dos 4 aos 18 anos”. José Santos é o presidente da direção da AEGO SPORT para o presente ano. Antigo ginasta, é a ele (e não só…) que cabe as decisões de colocar a academia num lugar de destaque na prática da ginástica a nível local – e posicioná-la a nível nacional.
Com um número de atletas que ascende aos 160 praticantes, a ginástica é uma das modalidades com maior procura, todos os anos.
“Todos os anos, ainda antes do início do ano escolar, já temos as classes todas esgotadas. Acho que este é o melhor indicador do sucesso que o clube tem nesta modalidade e na captação de atletas”, revela o dirigente.
Mas para que, todos os anos, as gerações se renovem, não basta ter um espaço de qualidade – que, aliás, tem vindo a sofrer melhoramentos com aquisição de novos materiais.
“Não vale a pena fazer um esquema de orientação pedagógica se depois não tivermos pessoas capazes para o executar. Felizmente temos excelentes profissionais responsáveis pelas diferentes classes”, avança, o que justifica os excelentes resultados que algumas destas raparigas tem conseguido em campeonatos da especialidade.
Benedita e Marta encontram o desporto que as desafia
Falar em “raparigas” e não em “rapazes” não é por acaso. Por circunstâncias do destino – “o futebol, o andebol e o rugby estão bem representados aqui à volta”, sorri José Santos -, 95% dos alunos de ginástica são raparigas.
Benedita Ferreira e Marta Freitas, de 14 anos, são duas dessas alunas. Frequentam as classes há mais de cinco anos e não pensam em desistir, por agora. Frequentam o 9.º ano e encontram aqui um local onde podem dar largas à energia.
“Quando era mais pequena testei várias modalidades, mas foi desta que mais gostei. Acho que é um desporto que puxa mais por nós e onde podemos aprender mais”, revela Benedita.
Já Marta, que nunca tinha experimentado nenhum desporto, conheceu a ginástica através de vídeos que viu. “Pensei que podia ser fixe e pedi aos meus pais para experimentar”.
Hoje, estão na classe intermédia e treinam, como gente grande, a coreografia que vão apresentar no domingo, às 16h00, numa grande mostra dedicada aos musicais. É normal que alguns passos ainda falhem, que a coreografia ainda não esteja decorada dos pés à cabeça, mas a persistência das jovens atletas e o olhar atento dos professores prometem só desistir quando tudo estiver decorado, do início ao fim.
Errar para fazer cada vez melhor
Se Bruna é a mais velha na classe de competição, Sofia Silva é a mais nova. Aos 10 anos, trata o movimento por “tu”, não tem medo de fazer “um flip para trás, um mortal para a frente, um pino ou uma ‘aranha’ para a frente”.
Estes são, aliás, algumas das técnicas de que mais gosta. “Comecei há quatro anos, os meus irmãos andavam cá e decidi continuar”. Hoje, com um sorriso maroto no rosto e uma vontade constante de estar em movimento, descalça sob o tapete vermelho de um pavilhão cheio de cor, não tem qualquer dúvida: “gostava de ser ginasta quando for maior”.
Por agora, conseguirá ser “grande” num espetáculo no Pavilhão Garcia de Orta, onde a bancada será a plateia perfeita para aplaudir um sem-número de sonhos que prometem encher de orgulho todos os presentes. Porque aqui não importa se se faz tudo certo. O importante é saber que, quando se erra, “trabalha-se sobre esse erro”, destaca José Santos.
E nunca se deixa para trás quem, ao seu ritmo, demora mais tempo a chegar ao local que pretende.
Texto: José Reis
Fotos: Nuno Miguel Coelho