03/02/2021

O Museu da Cidade lançou esta quarta-feira um novo website que, além de ser reflexo do projeto apresentado no ano passado, se apresenta como mais uma extensão do sistema de ligações em rizoma a que se propôs este projeto municipal. E traz já uma proposta para esta noite.


Temporariamente apartado do contacto direto com o público devido ao encerramento dos espaços, este museu à escala da cidade ocupa dezassete estações, desde o Reservatório da Pasteleira até à Quinta de Bonjóia (futura Extensão da Natureza). Navegando pela nova página, o visitante poderá explorar cada um desses pontos, a coleção que integram, os gabinetes que chegaram a poder ser abertos no difícil ano de 2020 (em vídeos guiados pelas exposições no projeto Visitações) e ainda contribuir com ideias para um "museu-em-construção", através do Gabinete Atmosférico, principal canal de interface em tempos de pandemia.


É também neste website, num "sítio invisível" que é uma janela aberta para a experiência da escuta, que a Rádio Estação tem morada fixa, após o sucesso do primeiro ensaio na Feira do Livro do Porto. A dimensão sonora contraria, assim, a tendência da imagem e da experiência de ecrã acentuada nos atuais contextos online, que por força da pandemia vieram substituir a presença física e, ao mesmo tempo, questionam a prevalência do objeto físico no espaço-museu. É, portanto, o som que, de um modo dinâmico, interage em primeira linha com os públicos.



Leitura de "Diário da Peste" de Gonçalo M. Tavares inicia esta noite


O destaque do lançamento é hoje canalizado para a primeira leitura de "Diário da Peste", de Gonçalo M. Tavares, que arranca esta quarta-feira, às 22 horas.


Publicados no Expresso durante o primeiro confinamento, e de imediato traduzidos para várias línguas, estes textos foram, para o autor, algo de inédito enquanto experiência de “receber o que ia acontecendo e reagindo”. Uma escrita quase em direto, em lista de ideias que querem fixar esse momento irrepetível, toma aqui corpo.


“Foi de uma brutalidade a nível da realidade e da escrita, nunca estive tão próximo verdadeiramente do que estava a acontecer”, confirma Gonçalo M. Tavares, sobre o projeto que passará a ecoar diariamente e em exclusivo na Rádio Estação, em pleno segundo confinamento.


Trata-se de um registo pessoal, mas é um documento que se espera que ganhe força, porque no contexto da pandemia este foi “o primeiro medo que tivemos”.


A Rádio Estação acompanha esta reação ao tempo que é a de recontar e de ouvir: “a rádio e a voz permitem um tempo de digestão auricular que tem muito a ver com a capacidade de reflexão”, justifica o escritor, e importa por isso “recolocar o impacto do som e da palavra na reflexão, em contraponto com um bombardeamento da imagem que muitas vezes também encadeia e imobiliza”.



Rádio Estação com rede de colaborações em crescimento


A Rádio Estação arranca com um conjunto de rubricas e dá o primeiro passo para uma rede de colaborações em crescimento. As propostas desenvolvidas com os artistas e músicos Tomás Cunha Ferreira e Domenico Lancelotti (que criaram de raiz a rubrica "Colapso"), a colaboração com a Rádio Sonoplasmática, a parceria desenvolvida com a Fonoteca Municipal do Porto (que convida a descobrir algumas preciosidades do seu extenso arquivo) ou com João Salaviza e Renée Nader Messora (com sinais vindos do lado de lá do oceano) são apenas alguns exemplos. "Arca", uma nave que percorre as latitudes criativas locais e desafia todos os silêncios, é a proposta da estrutura Matéria Prima, numa das primeiras parcerias basilares.


Para ir descobrindo esta "rádio-em-construção" ao tempo em que se desenvolve, espera ao ouvinte uma paisagem em "Pólen", projeto que resulta de captações e composições da cidade e ao redor das estações do museu, uma cúmplice parceria com o Colectivo Espaço Invisível, dirigido por Nuno Preto e com Samuel Coelho, que se estende a outros músicos e artistas sonoros.


A partir da 1 hora da manhã, em modo notívago, o "Fim de Emissão" abre campo para projetos de composição autogenerativa, atribuídos periodicamente a um artista. O primeiro segmento estará a cargo de Pedro Augusto.

Anexos
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