22/06/2021

Um martelo com duas pernas, um balão gigante que “sobe, sobe, sem parar” e um alho-porro (talvez alho-polvo) com vários braços. O imaginário de Mariana Malhão está à solta num novo mural localizado no Passeios das Fontainhas, no muro de sustentação ao viaduto de Duque Loulé. O trabalho faz parte do programa de São João, reduzido ao mínimo devido à situação de pandemia que atravessamos. Foi inaugurado hoje com a presença do presidente da Câmara, Rui Moreira.

 

“Quem vem e atravessa ao rio, junto à Serra do Pilar, vê um velho casario, que se estende até ao mar”. E agora, algures no meio deste casario eternizado pela voz de Rui Veloso, há um novo ponto de cor e luz a despertar a atenção: o novo mural de São João, feito de elementos identificativos desta tradição, idealizado e pintado pela ilustradora e artista plástica Mariana Malhão.



A partir de uma encomenda da Câmara Municipal do Porto e da Ágora – Cultura e Desporto, a artista foi desafiada a criar, livremente, uma visão pessoal sobre esta festa e a memória de um povo. Ao seu dispor, uma parede branca, de 40 metros de comprimento por 10 metros de altura. Uma parede que se devota ao rio, num diálogo entre a tradição e a contemporaneidade.


A parede, que marca a parte final do parque de estacionamento de Duque de Loulé, ganha assim um novo enredo – “mas não há nenhuma narrativa aqui”, diz-nos Mariana Malhão -, com novas personagens, reconhecíveis por todos os portuenses. “Decidi adaptar o meu desenho ao tema, nunca tinha feito nada a partir da ideia do São João, mas tinha feito já um workshop de balões com o Luciano Brito [mestre baloeiro brasileiro, atualmente a residir no Porto]. Parece que estes balões também são uma tradição no Brasil. E esse acabou por ser o primeiro desenho que apareceu”, reconhece a artista.


Na parede, o balão é o elemento em evidência. O desenho central, o epicentro de um conjunto de personagens que coabitam o local. “A partir dessa base, decidi criar as personagens, como se elas fossem a luz e cor da festa. São os ícones de São João que iluminam a noite”, esclarece. Noite essa personificada na base, a cor preta que “ilumina” toda a parede. “É uma noite muito luminosa”, acrescenta Mariana. 


 

Reação positiva

A artista olha para o trabalho quase finalizado e identifica-o como “uma festa estranha com várias personagens”. O processo, admite, foi intuitivo, existia “uma base para este trabalho, o desenho que fiz em photoshop”, mas as personagens foram surgindo conforme o trabalho assim o pedia. Demorou uma semana a ser feito, “mais rápido que o que pensava”, apesar das contrariedades meteorológicas e climatéricas dos últimos dias.


Os retoques finais foram dados na véspera – “segundas camadas de tinta e aprimorar pequenos pormenores” -, e as reações têm sido muito positivos. “O feedback tem sido muito bom, as crianças adoram, alguns adultos têm dito que gostam muito. Por agora está tudo a correr bem, mas de certeza que haverá pessoas que poderão não gostar”, afirma Mariana. Porque, já se sabe, há um São João diferente em cada pessoa que o vive. E cada cabeça, sua sentença. Mas uma certeza fica: o seu trabalho ficará eternizado nas paredes da cidade que celebrarão, assim, esta “festa estranha” feita por e para todas as pessoas. 


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