Por um lado, “I Have a Dream”, as palavras esperançosas “roubadas” a Martin Luther King; por outro, “Not Today”, a negação desta utopia em letras LED. O novo projeto de arte urbana foi inaugurado nesta quinta-feira, 14 de julho.
A nova instalação situada na Rua do General Sousa Dias questiona a relação entre as utopias positivas e negativas do nosso tempo, tentando traçar a fronteira que as divide e que as leva à sua reinvenção.
O projeto é assinado a quatro mãos, pelo português ±MaisMenos± (Miguel Januário) e pelo francês Rero, e procura dar uma visão alternativa do mundo, interrogando o espectador e convidando-o a refletir sobre a existência humana em confronto (ou em relação) com o pensamento artístico.
Neste projeto, situado na baixa da cidade do Porto, com as encostas e o Douro como cenário, cada artista propôs a colocação de um aforismo, escrevendo-o no mesmo suporte e criando, desta forma, uma ressonância de tese e antítese sobre o mesmo plano – como se uma realidade desmentisse o cenário existente.
±MaisMenos± usou uma das expressões mais famosas do século XX – “I Have a Dream”, mítico lema de Martin Luther King – como uma mensagem de amor, repetida infinitas vezes num mantra espalhado por uma estrutura de grandes dimensões.
Rero, por seu lado, contrapõe com a expressão “NOT TODAY” em LED, como um risco sobre a expressão de esperança colocada na base do trabalho. Com esta afirmação, o artista procura desconstruir uma utopia que apenas existiu no discurso do ativista norte-americano.
O projeto de arte urbana “I HAVE A DREAM / NOT TODAY” agora inaugurado faz parte do (Sem) Fronteiras, uma iniciativa da galeria Underdogs em parceria com o Instituto Francês, e conta com o apoio da Câmara Municipal do Porto. Surge no âmbito da Temporada Cruzada entre Portugal e França, que constitui um diálogo aberto entre os dois países.
Texto: José Reis
Fotos: Guilherme Costa Oliveira