22/07/2021

São as primeiras semanas da atividade que, todos os anos, potencia experiências mil aos mais pequenos. A Missão Férias@Porto iniciou na passada semana a edição deste ano, com lotação esgotada. Acompanhamos algumas das atividades da semana dedicada à “Fantasia”, nesta história sem vilões mas cheia de super-heróis. Esta é a primeira reportagem de um ciclo que será publicada nos próximos dias.

 

É o maior de todos, o mais alto dos mais pequenos ao seu redor. Sentados, esperam a chamada para mais uma atividade na tarde que o sol já acompanha, depois de uma manhã pintada a cinzento.


Ricardo Vasconcelos é o mais velho dos mais novos. Tem sete anos. Todos os restantes têm seis. Cabelo preto, cara morena, sorriso rasgado pelos dias que tem passado. “Gosto de tudo”. Repetirá esta frase como um mantra que é comum a todos os participantes da Missão Férias@Porto.


“Ah, só há uma coisa que não gosto muito”. O que é? “O cinema. Não gosto de me sentar naquelas cadeiras”, encolhe os ombros. “Mas gosto de tudo”, repete. “De tudo mesmo”, mais uma vez. Não há dúvida que resista quando o entusiasmo é expresso desta forma.


De riso feito, de olhar brilhante, de felicidade pontuada de espanto. Vive na Rua do Monte Alegre, no Porto, é o segundo ano que frequenta os campos de férias municipais. “Os meus pais quiserem que eu viesse e eu também quis”, diz. Ficará mais uma semana, completando o programa completo proposto para a edição deste ano da Missão Férias.


 

Semanas temáticas

“A ideia foi criar um programa que respondesse aos interesses dos miúdos, dos pais mas que permitisse ainda um conjunto de atividades diversificadas, por forma a proporcionar experiências diferentes durante as semanas em que cá estiverem”, revela Avelino Sá, um dos elementos responsáveis pela coordenação desta iniciativa da Câmara Municipal do Porto, através da empresa municipal Ágora – Cultura e Desporto.


Tendo em conta a média de frequência dos mais pequenos nesta iniciativa – três semanas -, foi delineado um programa de três semanas diferentes, com temáticas diferenciadas, que são retomadas no final de cada ciclo. “Este ano as semanas têm os temas de Aventura, Fantasia e Descoberta. A programação é adequada a cada semana, tendo em conta o tema geral e as idades das crianças”, acrescenta. destacando que foi importante este equilíbrio para dar um conjunto de atividades que todos os grupos pudessem fazer.


Do programa constam atividades desportivas como basquetebol, ténis, escalada ou golfe, e atividades lúdicas como magia, visitas a museus e sessões de cinema. “Os grupos estão divididos por idades e polos, tendo em conta que há dois grandes faixas etárias que vão das 6 aos 10 anos e dos 10 aos 15 anos”, acrescenta Avelino Sá, justificando desta forma a abrangência do programa proposto.



Novos na Missão Férias

Voltamos ao Ricardo. Aos mais pequenos. A Irene Lisboa, a escola onde, nesta tarde, decorrem os jogos pré-desportivos. O grupo espera ser chamado à ação. Enquanto não acontece, trocam ideias.


Maria Luísa Fontoura tem seis anos, é de Rio Tinto, ouviu Ricardo com atenção. É a primeira vez que frequenta a Missão Férias. Começou há uma semana, falta mais uma semana. No essencial, três semanas que não vai esquecer. “Estou a gostar muito, já fiz alguns amigos”, diz, entre os poucos dentes que a idade roubou. “Gostei de ir à praia, de experimentar o surf”. Do que ainda lhe espera, não sabe o que mais vai gostar. Não sabe bem o que ainda tem pela frente. Mas sabe que gostar. “Sim, vou gostar”.


A seu lado, outro estreante. André Soares, seis anos, cabelo encaracolado, um castanho-claro que, ao sol, roça o loiro. Estendido no chão, descansa enquanto o professor não o chama. “Vivo na Rua do Camones”. Entendemos, Rua de Camões, no Porto. “É a primeira vez que venho. Está a ser muito fixe”, revela. O que mais gostaste, perguntamos. “Do ténis. E de jogar matraquilhos nos intervalos” das atividades. André ficará as semanas quase todas. Porque os pais trabalham, porque esta é uma forma diferente de passar as férias.


 

Novos Polos

“A Missão Férias começou há 12 anos no Monte Aventino e foi este o local principal durante alguns anos”, acrescenta Avelino Sá, da coordenação. No entanto, fruto da procura cada vez maior e da afirmação da qualidade do projeto, houve a intenção de o expandir a outros locais da cidade. “E neste ano são seis polos – Monte Aventino, Ramalde, Viso, Pêro Vaz de Caminha, Infante Sagres e Irene Lisboa”.


No entanto, desengane-se quem pensar que o evento acontece nestes locais. “[Os polos] São sítios de entrega e recolha das crianças, apenas. As atividades não se desenrolam nestes sítios. É uma forma mais fácil para os pais deixarem os filhos, mais perto de casa de cada família, indo de encontro às necessidades”.


Mas as atividades, essas, são feitas em diferentes locais e são “todas iguais, todas as crianças fazem o mesmo programa”. Não há distinções, existe apenas a adequação de atividades consoante a faixa etária a que se direciona. “E o feedback tem sido muito bom, os pais têm deixado muitos elogios ao trabalho que temos feito, e isso é o que mais nos orgulha”, revela a organização.


 

Professores da Educação Física

Ouve-se, finalmente, o apito que faz levantar o grupo de Ricardo, Maria e André. É hora de jogar ao Lobo e ao Caçador. “A ideia é que o caçador fique dentro deste quadrado e tente apanhar os lobos ao redor. Quem perder tem que dar duas voltas ao quadrado, por fora”, ouvem-se as regras.


Vasco Duarte é um dos professores da Missão Férias, pilares principais do acompanhamento de todos os meninos. Nesta tarde, é um dos dois monitores que acompanha este grupo dos mais pequenos. “Estas são atividades com graus de complexidade diferentes, a faixa etária é a base para a definição da atividade”, destaca Vasco, de camisola azul, cor que identifica os professores que acompanham os grupos.


Licenciado em Educação Física – aliás, é característica genérica e comum a todos os professores -, usa a experiência adquirida em iniciativas anteriores para dar o seu melhor nestas semanas. “E o feedback tem sido positivo. Têm gostado muito, sente-se isso sempre que aqui chegam todas as manhãs, animados para mais um dia”, revela, denotando que isso demonstra “o porquê de todos os anos, muitos deles repetirem a experiência”.


Para o professor Vasco, esta é mesmo a mais-valia da Missão Férias: “os miúdos conseguem experienciar várias atividades, é um programa muito completo, e até podes ver se têm alguma aptidão para o futuro”. Ao lado, Ricardo já caçou várias vezes, corre de forma ágil. Maria tem conseguido fugir. André corre fora do quadrado. Foi caçado. Promete correr mais da próxima vez. Mas antes tem de terminar o “castigo”. “Falta pouco”, diz.


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