26/07/2021

A edição deste ano da Missão Férias@Porto continua, com brincadeiras, surpresas e com a partilha de muitos momentos – para mais tarde recordar. Com várias atividades ao longo da semana, há um dia em que todos os grupos se encontram: a quarta-feira, considerada o eixo de todo este programa. Acompanhamos o dia em que todos se juntaram nas praias do Molhe e do Homem do Leme, na Foz do Porto, numa ida à praia que se repetirá em todas as semanas até ao final desta iniciativa.

 

No meio dos outros, ninguém lhe dá a idade que realmente tem. Parece ter 12, no máximo 13. O discurso, no entanto, denuncia a estrutura de pensamento. Tem 15 anos. O entusiasmo mantém-se o mesmo, a quando tinha 12, 13 ou 14. Aos 15, quase ninguém imagina que esta é a última vez que se juntará a um grupo e que o acompanhará do seu verão. “Para o ano será diferente”.


Mas este ano, que ainda agora começou, será especial. “Pelos amigos, pelas atividades, pelo convívio”. Os motivos são comuns a todos, não pela falta de criatividade no pensamento crítico relativo à atividade, mas porque a verdade é mesmo esta. “Acho que o melhor do projeto é conhecer gente nova”. Resume, sem medo de ser mal interpretado e sem medo de mostrar o que sente, como se os adultos tivessem muito a aprender com os mais novos.


João Bandeira tem a idade limite para a participação na Missão Férias Porto. Este é o quinto ano em que participa nos campos de férias da Câmara Municipal do Porto, organizados pela empresa municipal Ágora – Cultura e Desporto. Vive em Ramalde. Há duas semanas que está nesta edição, vai ficar por mais três. Um mês inteiro para a despedida de um ritual que o acompanhou nos anos da adolescência.


“A interação com as pessoas é o melhor que levo deste período. Acho que é uma boa iniciativa, dá para estarmos todos juntos, interagir e conhecer pessoas novas”. Na Missão Férias Porto não há grupos de primeira, de segunda ou de terceira. A forma como todos se envolvem e se encontram, interagem e se respeitam é o sinal mais claro que a apelidada “geração rasca” não vive por aqui.


 

Dia de praia

Quarta-feira, 10h30. As praias do Molhe e do Homem do Leme são o ponto de encontro de todos os grupos que, uma vez por semana, têm uma atividade comum e um dia passado em conjunto. “A quarta-feira é o nosso eixo, é um dia comum a todos, com a mesma atividade delineada para todos os grupos”.


Encontramos Avelino Sá e António Saraiva, de camisolas pretas, capuz ajustado ao pescoço, identificação bem visível para quem a queira ler. O sol não despontou, o vento sopra com calma, mas de forma constante, as ondas fazem a habitual dança do vai-e-vem perante os olhares deliciados dos mais pequenos, cujo propósito é só um: saber a hora em que podem sentir a temperatura da águas nos pés.


“Este é um momento muito importante para nós”, continua Avelino, “é o momento semanal em que todos estão juntos, num espaço devidamente amplo para que todos possam estar devidamente afastados, segundo as regras impostas pela pandemia”. “E é interessante porque eles já conhecem bem estes dias, combinam nas redes sociais encontrarem-se neste local, é como se fosse o ponto de encontro semanal de todos eles”, acrescenta António Saraiva.


A ideia do programa foi mesmo esta, potenciar atividades diferentes em diferentes dias. “A quarta-feira acaba por ser um dia equilibrado para isto, permite que o grupo se conheça bem nos dois primeiros dias, depois encontram-se com todos e conhecem ainda mais miúdos. Os dias restantes da semana servem para consolidar as amizades criadas ao longo da semana”. Uma receita eficaz dada pela coordenação do projeto, que parece ter os ingredientes certos para criar amizades para a vida.



A amizade é o melhor do mundo

Que o diga Nuno Ferreira. Tem 11 anos, vive em Paranhos e retoma a ligação à Missão Férias Porto depois da pandemia ter feito das suas. “No ano passado não vim, mas este ano estou cá”. Reencontrou amigos que não via há dois anos que, como ele, voltaram a um sítio onde, (quase) todos os anos, são felizes. “É divertido estar com os amigos, estarmos aqui todos juntos”.


O vento que se faz sentir, que leva a que não tiremos o casaco, tem o efeito inverso nos mais pequenos: uma bola há muito que rola no areal, perante uma equipa composta por elementos dos diferentes grupos. “Fiz muitos amigos ao longo dos anos”, atira o pequeno Nuno, enquanto olha para a bola que continua a saltar de um lado para o outro. Do que mais gosta, salienta a praia. “E o minigolfe”. Uma opinião partilhada pelo pequeno Rodrigo Freitas, de 9 anos, que lembra, com saudades, a ida ao Parque Aquático de Amarante em anos anteriores, atividade que teve que ser substituída devida à pandemia de Covid-19.


“Algumas das atividades tiveram que ser repensadas, tendo em conta os procedimentos em vigor. Sabemos que os miúdos gostavam das atividades fora da cidade, mas tivemos que pensar num programa que pudesse responder às ambições da crianças mas respeitando todas as regras”, revela Avelino Sá. Um esforço conjunto com toda a equipa para não deixar cair esta atividade que, todos os anos, mobiliza centenas de crianças e que é um garantia de qualidade para os pais que procuram alternativas para as férias escolares que não seja os famílias mais próximos, as novas tecnologias e a televisão sem fim.


 

Relação com a natureza

“E os meninos estão muito bem preparados, sabem da necessidade da higienização das mãos, a necessidade de andarem com máscaras. Está tudo muito bem incorporado”. Rafaela Albuquerque é uma das coordenadoras de um dos grupos – neste caso, o do Viso. Pede desculpa pelo sotaque cerrado – “sou açoriana” – mas a mensagem passa bastante bem, tendo em conta o essencial.


“Sinto que todos estão a gostar muito. Devido aos confinamentos todos estiveram fechados, mas aqui sentem mais liberdade e interação social”. Está no projeto há alguns anos, segue as crianças há várias edições, o que faz com se crie uma relação de cumplicidade entre todos. “E esta atividade permite outras experiências que não têm nas aulas, apesar da Educação Física [que faz parte do curriculum escolar]. Há uma maior ligação com a natureza, mais atividades no exterior, o que permite uma maior relação entre todos”.


Tiago Faria é outro dos professores que alinha na equipa-maravilha desta Missão Férias Porto. Regressa para mais um ano, com a mesma convicção que o leva a inscrever-se para monitor todos os anos. E com ele trouxe um dos filhos, que “faz parte de um dos grupos dos mais pequenos”. Até porque, “para mim, a mais valia deste projeto é o convívio entre todos. Nos últimos anos perdeu-se esta parte, devido ao que todos sabemos, mas agora retomamos esta possibilidade, do contacto entre as crianças e a prática do desporto”, refere Tiago Faria. Um 2 em 1 mais que saudável, já que a amizade e o desporto só podem fazer bem a todos.


 

Lema da organização

“Desde o início que temos professores licenciados em Educação Física, é uma condição que impusemos. Permite um acompanhamento mais eficaz das atividades e outro tipo de sensibilidade”, admite Avelino Sá, da coordenação deste projeto, ressalvando que esta é ainda uma forma de “compensar os professores que trabalham nas AEC’s e se vêm privados de salário nos meses de verão, quando termina o período escolar”.


E o grupo de professores tem-se mantido coeso ao longo dos anos, repetindo a presença e apoiando os mais novos numas férias diferentes. “É um espírito diferente que se cria, há uma ligação a esta atividade. O pessoal da Educação Física tem mais este sentimento de entreajuda”, ri António Saraiva, logo corroborado por Avelino Sá, que dá até um exemplo concreto: “tem uma professora aqui no campo de férias que trabalha numa clínica e, todos os anos, usa as três semanas de férias para trabalhar connosco, o que demonstra bem a ligação a este projeto”. Essencial mesmo é “divertir-se e sentir o projeto”.


Só assim se justifica a ligação criada entre miúdos e graúdos. “O nosso lema é ‘sermos melhores’. Procuramos sempre mudar algumas coisas de ano para ano, buscando sempre o melhor. Os pais já perceberam a dinâmica e são colaborativos”, sintetizam.


E o melhor elogio parece vir da boca do pequeno Martim Ribeiro, que vive no Campo 24 de Agosto, no Porto. Aos 8 anos, o difícil é escolher. “Do que eu mais gosto? De tudo”. Da praia, por exemplo. “Sim, é muito fixe. Mas podia ser ainda mais fixe”. Ai sim? “Sim. Se tivesse aqui um gelado”, solta uma gargalhada. O tempo frio não lhe arrefece as ideias. Pode ser que, mais tarde, o seu desejo seja uma realidade.

 

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