De 23 a 25 de setembro, o MIMO Festival encerra o verão na cidade com mais de 20 concertos, 11 DJ sets, oito workshops, oficinas e residências artísticas, assim como atividades de arte, performance e tecnologia. Com acesso livre, o festival estende-se a vários palcos instalados no centro da cidade.
De Amarante para o Porto, passando pela Nigéria, por França, Brasil, Congo, Ucrânia, Reino Unido, Argélia, Tunísia, Cabo Verde, Índia e Costa do Marfim. O Festival MIMO, cujas últimas edições decorreram na cidade de Amarante (até 2019, tendo as edições seguintes sido canceladas devido à pandemia), dirige-se ao litoral para uma edição (literalmente) a olhar para as águas do Douro.
De 23 a 25 de setembro, o MIMO Festival ocupa o coração da cidade com vários palcos e um mundo que cabe todo num único espaço.
Do Largo do Amor de Perdição ao Jardim da Cordoaria, do Jardim das Virtudes à Reitoria da Universidade do Porto, passando pelas Igrejas do Carmo, de São José das Taipas e dos Carmelitas Descalços, entre muitos outros espaços, o Centro Histórico da cidade, Património Mundial da UNESCO, passa a ser, durante três dias, o Património da Tradição Musical e Oral de todo o mundo.
Para Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, parceira do festival, este será “um acontecimento marcante na vida cultural da cidade”.
“Sabemos que quem vive no Porto e quem nos visita vai ter um leque de escolhas único e um conjunto de propostas artísticas e culturais de elevadíssima qualidade e totalmente acessível a todos”, assume o autarca, destacando, desta forma, o acesso livre a todas as atividades programadas durante os três dias.
Rui Moreira acrescenta ainda que, "depois da pandemia, queríamos um evento agregador de públicos, que se apresentasse sem qualquer barreira, fosse ela de acesso ou linguagem. Era, assim, evidente que o MIMO tinha que ser do Porto, para os portuenses e para os seus visitantes".
Do Brasil ao Congo
O festival MIMO nasceu no Brasil, há precisamente 18 anos, e no ano da maioridade este é um dos países que volta a estar em destaque no cartaz.
Emicida, um dos nomes fundamentais do hip hop da atualidade, atuará nesta edição do festival e apresentará, no Porto, o premiado álbum “AmarElo”.
Já o jornalista, poeta, compositor e intérprete Chico César é outro dos nomes a marcar presença na cidade. Um dos artistas com uma das mais sólidas carreiras na música popular brasileira apresenta, em concerto, o 10º álbum da carreira, “Vestido de Amor”.
Nesta verdadeira viagem multicultural e planetária que o Porto irá acolher (e saudar) durante três dias, uma das paragens obrigatórias é a voz – e musicalidade – da franco nigeriana Asa.
Herdeira do afrobeat de Fela Kuti e dos sucessos que marcaram a editora Motown, a artista apresenta o mais recente registo “V”, disco que contou com as participações (de luxo) do rapper Wizkid, da dupla The Cavemen e do ganense Amaarae.
Na rota pelos sons do mundo, duas lendas carimbam o passaporte na cidade e prometem um encontro memorável com o público. Por um lado, o lendário realizador e DJ inglês Don Letts, que promove um espetáculo que junta uma panóplia de sons aos seus filmes, pontuados por uma linguagem identificativa do seu trabalho.
Por outro, o congolês Ray Lema, que mistura música clássica, jazz e sons assumidamente tribais e tradicionais. Um espetáculo que prestará homenagem a Franco Luambo, o pai da rumba congolesa, considerada Património Mundial da Humanidade pela UNESCO em 2021.
Bilhete de identidade nacional
Mas se Portugal acolhe o mundo, o mundo quer também ouvir o que Portugal tem para oferecer. Assim, o cartaz do MIMO 2022 apresenta um conjunto de músicos nacionais que vale a pena destacar – e, acima de tudo, não perder: o DJ e produtor Branko, um dos nomes fundamentais da nova música eletrónica, apresenta o seu mais recente disco; o músico Pedro Burmester e o Quarteto de Cordas de Matosinhos apresentam um programa especialmente dedicado a Schumann e Dvorak; Manuel de Oliveira evidencia a alma ibérica dedilhada na sua guitarra; e a dupla Maria João e Mário Laginha volta a encantar o público com uma cumplicidade ímpar na cena musical portuguesa.
Haverá ainda um momento muito especial que acompanhará o final da exposição “Mulheres que fazem barulho – Cenas do Rock Português I”, promovida pela Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto. Este concerto juntará em palco verdadeiros ícones no feminino, artistas que marcaram gerações de melómanos, como é o caso de Ana Deus, Lena d’Água, Anabela Duarte, Sandra Baptista, Mitó Mendes, Carolina Brandão e Marta Abreu.
Multiculturalidade no meio de nós
Ao longo de três dias, o Porto é o “porto de abrigo” de uma geração de músicos e ouvintes que trazem (e levam) o mundo além-fronteiras. “Os lugares de memória são pontos de diálogo e de harmonia, onde promovemos reencontros de reconciliação e de tolerância”, assume Lu Araújo, fundadora e diretora do MIMO, que concebeu este evento “gratuito, democrático, diverso, multigénero, igualitário e multiterritorial”.
Esta abrangência é plenamente expressa num cartaz com uma latitude diversa, com a presença de outros nomes como a dupla DuOud (Argélia e Tunísia), Mário Lúcio (Cabo Verde), Valentina Lisitsa (Ucrânia), Nishat Khan (Índia), Orquestra Voadora (Brasil), Chiara Santoro (Brasil), Gileno Santana (Portugal/Brasil), Plínio Fernandes (Brasil), KT Gorique (Costa do Marfim), Channel One (Reino Unido), Brother Culture Sound System (Reino Unido) e Ministereo Público Sound System (Brasil).
Numa parceria com a Universidade do Porto, haverá ainda um conjunto de atividades dedicadas à Amazónia brasileira, com performances, palestras e exibições de artes visuais.
Depois quatro edições em Amarante, o MIMO Festival ocupa o coração da cidade do Porto, numa vontade de ocupar o coração de quem vive (e quer viver) a cidade.
Um evento com especial atenção à acessibilidade e eliminação de barreiras, para que todos possam aceder de forma fácil e livre a todas as propostas apresentadas. O ambiente a sustentabilidade são ainda outras das prioridades desta iniciativa.
A programação do MIMO Festival, que decorre de 23 a 25 de setembro em vários palcos da cidade, pode ser consultada em https://mimofestival.com/
Texto: José Reis
