12/10/2021

Podemos começar por ordenar as nossas ideias para “adiar o fim do mundo” olhando para o passado da história (e do nosso cinema)? Como se o efeito de catarse fosse a melhor forma para recuperarmos a esperança num futuro desconhecido?


A 20 de novembro, o festival Porto/Post/Doc abre com uma estreia (e um momento único): a exibição, em grande ecrã, do clássico “Maria do Mar”, do portuense Leitão de Barros. Uma cópia restaurada e musicada ao vivo a partir de uma partitura escrita por Bernardo Sassetti, no ano em que se lembram os 125 anos do nascimento do realizador.


É um objeto único, ímpar, consensual, inebriante, encantador. Os adjetivos podem ser acrescentados a gosto, quando o assunto é uma das películas maiores da história do cinema português: “Maria do Mar”.



Este é um notável trabalho realizado por Leitão de Barros, rodado em 1928 e estreado em 1930 (completa, este ano, 91 anos!), onde o autor faz um retrato (mudo, fiel mas cru) da paisagem marítima e da vida dos pescadores da Nazaré, comunidade piscatória com história nacional para contar.


A narrativa do filme é construída à volta do ódio entre duas famílias locais devido à morte de um pescador, provocada, de forma acidental, por outro. Mas quando duas famílias estão desavindas, o que pode levar a que elas se entendam?


Mas será, afinal, o amor entre os filhos das duas famílias que irá potenciar a reconciliação. Um sentimento que permitirá que todo o passado seja suplantado por uma união retomada, um futuro que se fará de forma mais apaziguadora entre os núcleos centrais desta história.



Claramente influenciado pela escola alemã e soviética da altura, o realizador Leitão de Barros assina com este filme um dos primeiros registos audiovisuais onde a ficção e o documentário se encontram de uma forma clara (e que influenciaram películas rodadas posteriormente):


Nova versão em estreia no Porto


É olhando este passado (mudo, a preto e branco, mas luminoso), com os olhos postos no futuro (sonoro, a cores, mas será ele mais sombrio?), que a oitava edição do Porto/Post/Doc inicia mais uma edição, dedicada, neste ano, às “ideias para Adiar o Fim do Mundo”.


A 20 de novembro, às 21h30, o Rivoli é o palco do cine-concerto “Maria do Mar” que, para além das imagens (intemporais) do realizador, contará com a partitura de Bernardo Sasseti, músico a quem a Cinemateca Portuguesa encomendou uma partitura com música original, em 1999 (acompanhando o restauro do filme, naquele que seria o primeiro projeto de restauro do laboratório do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento).



Esta cópia que agora se apresenta (em estreia) no Porto/Post/Doc, teve origem na digitalização 4K do negativo de câmara original do filme, potenciando uma maior experiência visual do documento original.


A exibição deste filme resulta assim da colaboração firmada entre a Cinemateca Portuguesa, Casa Bernardo Sassetti e o Teatro Municipal do Porto.


Contará com a interpretação da Orquestra Sinfonietta de Lisboa e com a direção musical de Vasco Pearce de Azevedo.



Os bilhetes para esta sessão única podem ser adquiridos nas bilheteiras do Teatro Municipal do Porto ou na Bilheteira Online. 


Nomes reconhecidos


José Leitão de Barros nasceu no Porto a 22 de outubro de 1896. Realizou os primeiros filmes em 1918, “Malmequer” e “Mal de Espanha”.


Foi considerado um precursor do cinema alemão e soviético de então, contaminando a sua técnica e filmografia com elementos existentes nos filmes a que assistia.


Do seu trabalho destaque para o filme “A Severa” (1931), o primeiro filme com som realizado em Portugal. Destaque ainda para os filmes “Lisboa, Crónica Anedótica" (1930), “Ala-Arriba!” (1942) e “Camões” (1946), marcando a cinematografia nacional do Estado Novo.


Leitão de Barros morreu em junho de 1967, aos 71 anos.


Bernardo Sassetti, responsável pela partitura, nasceu em 1970.


Iniciou a carreira musical em 1987, sendo muita da música que compôs feita especialmente para cinema. São os casos das bandas sonoras de “Quaresma”, de José Álvaro Morais, “O Milagre Segundo Salomé” e “Perdição”, de Mário Barroso, assim como “Alice” e “Como Desenhar um Círculo Perfeito”, de Marco Martins.


O músico faleceu em maio de 2012, aos 52 anos.


Créditos

Maria do Mar (J. Leitão de Barros, 1930) 

© Col. Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema

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