13/12/2023

É a instituição de muitas gerações e a única filarmónica do Porto que continua a unir músicos dos 6 aos 80 anos de idade, tudo em prol de uma herança que faz parte do legado cultural da nossa cidade. A formação da Foz do Douro sobe, pela primeira vez, aos Aliados para um concerto único de Natal, este sábado (dia 16). Fomos conhecer a sua atividade e medir o pulso às expectativas para este espetáculo tão desejado.

 

Ladeados pelo casario antigo da Foz Velha, subimos a rua do Padre Luís Cabral com destino marcado: a sede da centenária Banda Marcial da Foz. A “morrinha” parece não demover um pequeno grupo de músicos que, em plena calçada, dão os últimos toques numa bola de futebol. Um aquecimento diferente antes do ensaio geral, agendado para as 22h00 do feriado de 8 de dezembro. 

 

A porta entreaberta denunciava a azáfama típica e o entusiasmo de quem esperava experimentar as novas fardas e que precisavam de ser renovadas (o último fardamento data do mesmo ano da Porto, Capital Europeia da Cultura, em 2001). No corredor esguio, ladeado de retratos de históricos da Banda Marcial da Foz, medalhas, troféus, brindes, fardas, estojos de instrumentos de sopro e pautas avulsas, já se ouvia o burburinho (des)afinado dos instrumentos de sopro, oboés, flautas, flautins, saxofones, clarinetes, trombones e tubas. 

 

 

Interpelámos Manuel da Costa, o novo maestro da banda, quando tentava “reunir as tropas”. “Não repare!”, gesticulava ao mesmo tempo que se desculpava pela confusão de mais um dia de ensaios com músicos dos 6 aos 80 anos. Enquanto no andar de cima, os músicos afinavam os instrumentos, desafiámos o maestro a falar do tão desejado concerto nos Aliados. Foi algo que só se conseguiu com “muito trabalho e muitos contactos, alguns dos quais com a ajuda da Ágora”, justifica. “Pela primeira vez vamos fazer um grande concerto na nossa cidade”.

 

Banda centenária com músicos dos seis aos 80 anos

 

No elenco figuram cerca de 50 músicos que integram a Filarmónica do Porto, como é o exemplo de Julieta Martins, de apenas nove anos. Pela mão do pai – que assistia atento ao ensaio no final da escadaria de acesso à sala de ensaios no primeiro piso -, o porte de bailarina não se coaduna com a ostentação do som que ecoa do seu “amigo” saxofone.

 

 

Como quase toda a família, incluindo a irmã que também integra a Banda Marcial, toca um instrumento de sopro. Escolheu o saxofone por ter “um som único e especial”. Acha que quer seguir música, mas o que para já a entusiasma mesmo é o concerto na Avenida dos Aliados, neste sábado. As expectativas de uma criança medem-se com o pensamento prático de quem tem a noção que irá também crescer com esta experiência que diz “ser única”. “Só espero que as pessoas venham assistir e quero muito que este espetáculo corra bem”.  Se depender dela está garantido um concerto memorável.

 

O mesmo entusiasmo é partilhado pelo “jovem” Joaquim Monteiro. Com 77 anos é o músico mais velho da Banda Marcial e espera com “expectativa este concerto”.

 

 

A paixão pela música veio desde muito cedo quando dedilhava o acordeão e emprestava talento no teclado de inúmeras formações. Juntou-se à coletividade com 56 anos, depois de um amigo o ter desafiado a experimentar tocar num dos ensaios. Aceitou o convite para integrar a formação, mas foi assaltado pela dúvida: “numa banda marcial que instrumento irei tocar?”, questionou. “Vais tocar… tuba!”, respondeu o amigo de rompante. “Foi só aprender a escala do instrumento” e não mais parou.

 

Espetáculo natalício na Avenida dos Aliados

 

O espetáculo nos Aliados da Banda Marcial da Foz – Filarmónica do Porto terá, pela primeira vez, um coro composto por alunos e alumni da Universidade do Porto (UP). No total serão cerca de 100 elementos em palco. A colaboração com a UP surgiu após o maestro ter desafiado o Município do Porto para a Filarmónica apresentar um concerto de Natal.

 

Integrar um coro seria a opção lógica e há um mês que todo o elenco trabalha para este espetáculo. A metodologia de trabalho fluiu naturalmente. Mas questionámos Manuel da Costa se foi fácil integrar um coro de várias idades e os elementos da Filarmónica. “Muito fácil por uma razão simples: a música é uma linguagem universal. Este papel que tenho aqui para tocar [olha para uma partitura], se o levar à China, um chinês saberá tocar. O entrosamento é natural”, justifica. 

 

 

Saímos da sede da Banda Marcial da Foz do Douro aos primeiros acordes de “A Swinkling Christmas”, de Willy Hautvast, a dissiparem-se ao longe. Encostámos a porta da sede - há sempre quem queira entrar e aprender. O Forte de São João Batista travava a brisa marítima e a névoa começara a dissipar-se. Bons presságios se avizinhavam. Rumo aos Aliados, no sábado, às 18h00. 

 

Texto: Sara Oliveira

Fotos: Nuno Miguel Coelho

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