30/11/2023

Se o espírito do Natal vive por toda a cidade – com foco no eixo que liga os Aliados à zona da Cordoaria -, a luz (ou talvez aquela que é a mais especial) vive nas paredes da Concha Acústica dos Jardins do Palácio de Cristal. Inês Arisca foi a artista convidada neste ano para transformar o local num espaço mais pessoal. “Aurora” integra o programa de Natal, com uma metáfora de início bem patente em toda a obra: a partir desta luz, ponto central do mural, tudo é possível. 

 

No centro do mural (como na vida), está a virtude. Na realidade, é a luz o elemento que serviu de base para o desenvolvimento do resto do trabalho. Uma vela, com uma chama que ilumina esse escuro metafórico, é uma imagem que facilmente tem leituras que ganham significados múltiplos. Pode ser um cenário pessoal, uma reflexão mundial, um sonho que anseia pela realidade. Inês Arisca pensou em tudo isso quando foi convidada para ser a responsável pelo “Mural de Natal” da cidade, na Concha Acústica. “Pensei em conforto no frio, um quentinho confortável”, sorri a artista.  

 

Não é por acaso que a luz, ténue, acaba por ter o destaque entre azuis, verdes, laranjas, vermelhos. “A luz é a inspiração, é como se fosse o motor da ação”. Uma ação que não se sabe de onde vem e para onde vai. De momento, uma figura, “sem género, porque isso não é importante”, acende a vela que ilumina a mesa de Natal. “Quis trabalhar a partir da ideia do solstício de inverno, também conhecida como a noite mais escura do ano”, resume Arisca.  

 

 

Daí não haver árvores de Natal, rabanadas cobertas de açúcar ou luzes a piscar sem parar. Ao lado do sofá, onde esse meio-corpo sem identidade acende a luz que ilumina o mundo, há uma mesa com elementos alusivos à época: um prato com citrinos, cascas de uma laranja degustada minutos antes e azevinhos representados numa toalha que cai sobre essa mesa.  

 

Luz na Concha Acústica 

 

“Os elementos que usei remetem para essas comemorações mais ancestrais do solstício de Inverno, não tanto para um Natal cristão ou de outra religião”, assume a artista. Há Natal em todos os dias do ano, caso o queiramos assumir. É sobre isto que Inês Arisca fala na arte que eternizou na Concha Acústica, numa altura em que, assume, está a fazer trabalhos que nascem de lugares “mais pessoais”. “Estou numa fase em que estou a descobrir a minha própria força, os meus próprios valores e a tentar viver como acredito”. É essa liberdade que lhe permite não pintar “um Natal a vermelho, com símbolos que pouco me dizem”. 

 

“Sempre fui movida pela minha força interior, em que pintava pessoas e afetos. Os meus motivos principais são sempre carinhos, abraços, o darem as mãos, uma visão do poder individual para o coletivo”, assume Inês Arisca.  

 

 

“Aurora” é o mural que agora promete dias maiores, um novo ciclo que começa. É só seguir a luz. Aquela que transforma a noite em dia e a escuridão num manto de cores e esperanças.

 

Texto: José Reis

Fotos: Rui Meireles

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