29/10/2021

O convite surgiu em 2019 por parte de uma produtora francesa: filmar um cinema em Portugal à sua escolha. O realizador Pedro Lino, do Porto, escolheu o cinema mais emblemático da sua cidade: o Batalha. O processo está já em andamento.


Foi no festival Il Cinema Ritrovato de 2019, aquando da estreia internacional do seu documentário “Lupo”, que o realizador Pedro Lino recebeu uma proposta da francesa Kolam Productions: queria que o realizador escolhesse um cinema em Portugal para integrar a série de documentários “Cinemas Míticos”, que está a contar a história das salas “mais fascinantes de todo o mundo”.


“Imediatamente, lembrei-me do Batalha”, recorda o realizador. “É o cinema mais icónico da cidade do Porto e pareceu-me mais interessante escolher um cinema da minha terra.”



Nascido em 1980, Lino nunca chegou a ser espectador assíduo do Batalha, admitindo, no entanto, uma “ligação mitológica” com a sala: “É claro que todos nós, ao crescermos no Porto, conhecemos o Cinema Batalha. E eu lembro-me de em miúdo ir ver alguns filmes lá. Mas a minha relação principal com o Batalha é uma coisa que eu acho muito interessante e que, embora não conheça a fundo os cinemas do mundo inteiro, acho que é algo quase único: o cinema fundiu-se com a cidade, já se tornou parte do nosso imaginário, até foi adotado pelo nosso léxico com a expressão ‘vai no Batalha’.”


Aos olhos do realizador, o Batalha é um cinema mítico precisamente por esta fusão, que resulta do facto de o cinema “ter acompanhado toda a história do século XX e XXI da cidade do Porto”.



Respondendo ao repto da Kolam Productions, Pedro Lino juntou duas personalidades marcantes na história do Batalha: Alexandre Alves Costa e Margarida Neves.


Os motivos da escolha são evidentes. Alexandre Alves Costa, arquiteto responsável pela recuperação do edifício do Batalha, a par com Sérgio Fernandez, e também filho de Henrique Alves Costa, histórico dirigente do Cineclube do Porto, “lembra-se de ir ao Batalha praticamente desde que nasceu, porque tanto o pai como a mãe estavam ligados às exibições do Cineclube do Porto”, revela o realizador.


Já Margarida Neves é descendente de António Neves, um dos fundadores do Batalha, e atual administradora da empresa Neves & Pascaud, que ainda hoje é proprietária do imóvel.


A biografia do Batalha será concebida a partir de um diálogo entre estas duas personagens reais e de imagens de arquivo e filmes antigos da Cinemateca Portuguesa e dos Arquivos RTP.



Serão, ainda, reencenadas pequenas anedotas conhecidas dos portuenses e que envolvem, de algum modo, aquele cinema.


Mas a história não acaba ali. Pedro Lino quer que o documentário continue em rodagem até à inauguração do Batalha, “o dia em que o cinema abre as portas ao público e à cidade do Porto outra vez”.


“Nós apanhamos o Batalha numa altura de grande mudança – e isso é outro ponto de interesse que o documentário tem. Estamos a contar a morte e o renascimento do Cinema Batalha.”



O documentário, coproduzido pela Kolam Productions e pela Ukbar Filmes com o apoio da Câmara Municipal do Porto, da RTP e do ICA, está a ser feito por uma equipa integralmente constituída por profissionais do Porto.

Além de Pedro Lino (realizador), o projeto conta com a colaboração de Dinis Sottomayor (diretor de fotografia), Pedro Balazeiro (engenheiro de som), Bruno Nacarato (chefe eletricista e chefe de produção), Tomás Valle (produtor executivo), Mário Santos e Mário Moutinho (atores).

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