06/04/2023

Jovens de várias latitudes, do Haiti aos Estados Unidos, passando por França, Irlanda, Dinamarca, Alemanha, Países Baixos e Portugal, estrearam-se na segunda edição da Porto International Cup. No torneio onde a língua não é barreira, o desporto-rei faz as honras da casa, com convívio entre pares e troca de experiências culturais.

 

Neste final de semana o Porto foi o centro do futebol juvenil além-fronteiras. Mil crianças e jovens de cinco escalões – sub-11, 13, 15, 17 e 19 - disputaram a Porto International Cup. Durante os três dias de competição, os jogos e a diversão dividiram-se em três campos: Parque Desportivo de Ramalde, Estádio Universitário do Porto e Complexo Desportivo da Pasteleira.

 

Gonçalo, 12 anos, representa um dos clubes que jogam “em casa”, ADR Pasteleira. Para o extremo-esquerdo é “uma alegria enorme participar neste torneio e representar o Pasteleira. É um sinal de que o nosso clube está a crescer. Queremos ganhar os jogos, mas também nos queremos divertir”, sintetiza.

 

“O Pasteleira está unido”, interrompe Gustavo, de 11 anos. “Vamos dar o nosso melhor, divertir-nos muito e conseguir o primeiro lugar”.

 

Simão Silva, coordenador de futebol de formação do Pasteleira, foi atleta de alta competição e jogador profissional de futebol em vários clubes. Esta é a primeira vez que, em parceria com a organização, a O-Sports, tem uma participação desta dimensão. “Temos atualmente equipas muito competitivas, bem classificadas, o que mostra a vitalidade do nosso projeto”, sublinha. Torneios como a International Cup servem, acima de tudo, para os miúdos desenvolverem as suas “capacidades desportivas e de desenvolvimento pessoal, serve para se divertirem”.

 

 

A articulação do desporto com uma mente sã e corpo saudável, aliados à motivação, “ajuda também no desenvolvimento escolar, uma dimensão muito importante e que não descuramos na vida dos atletas. Têm de ter essa responsabilidade. Para atingirem esses objetivos e para representarem esta instituição têm de estudar. Esse é o futuro”, acrescenta. “No clube proporcionamos todas as ferramentas para que se sintam acompanhados, importantes e valorizados”. Por alguma razão, Simão Silva exorta os seus pupilos com a frase motivacional para esta competição: “Nenhum jogador é tão bom como todos juntos”.

 

 

A aventura da independência

 

O Sport Clube Valenciano vem de Valença e participou na primeira edição da Porto International Cup nos escalões mini. Este ano trazem formações sub-11 e 13. O treinador André Rodrigues tem consciência de que os seus jogadores ainda têm de evoluir muito mas, acima de tudo, as crianças querem “divertir-se” e ser confrontadas “com outras realidades”. “Ficar uma noite a dormir fora de casa é uma experiência única para eles, sentem o peso da responsabilidade e crescem um pouco mais”, conclui.

 

 

A mesma opinião é partilhada por Marco Carvalheira, um dos treinadores de formação do FC Porto. “Estes contextos são bons para eles crescerem enquanto jogadores e como pessoas, para trabalharem valores associados ao desporto”, explica.

 

Gustavo Oliveira, com 11 anos, acabou o jogo contra o FC Maia. O jogador portista admitiu ser uma derrota pesada para o clube maiato, “o resultado foi positivo: 10-04”. Ainda assim acha que a equipa devia ter feito melhor. “Nestes torneios é importante entrar com a atitude à FC Porto. Sempre no máximo, nunca desistir, recuperar ao máximo o jogo, ajudar a equipa”, diz-nos com a lição bem estudada.

 

Manuel Mota, treinador da equipa oponente, o FC Maia, garante que a derrota rapidamente é esquecida pelo convívio, diversão, pelas brincadeiras e pelo passeio na marginal que está agendado para depois do almoço. Mota é um apaixonado por estes encontros entre pares. “Dá aos miúdos a oportunidade de fugir à rotina dos treinos e jogar mais tempo e com equipas diferentes. Depois há a vertente lúdica e o facto de esta ser uma competição com equipas internacionais, permite conviver com outras culturas e interagir com outros miúdos. Conseguimos misturar o que nos une – o futebol – com a amizade, a cultura”.

 

 

Todos querem ser jogadores de futebol. Ronaldo, Messi, Pepe… mas, ao longe, alguém se destaca. Um atleta portista grita, alto e a bom som: “Quero ser eu próprio!”.

 

Língua não é barreira

 

Chris Harris é o fundador da TechFit Soccer School. É fã incondicional de Pepe, Quaresma e Figo e, claro, Cristiano Ronaldo. Depois de uma carreira profissional no futebol, onde jogou em clubes da América do Sul e da Europa, o técnico confessa-nos: “Quero fazer crescer esta modalidade nos Estados Unidos”, em concreto na Califórnia, São Francisco.

 

Chris diz-nos que depois de jogar como profissional queria “contribuir para a comunidade através do desporto”. E como vieram cá parar? “Com paixão, dedicação, muito trabalho e, acima de tudo, conhecer o futebol que aqui se pratica”. A participação neste torneio é “uma grande experiência”, porque “aqui o futebol tem grande qualidade e queremos aprender com outros clubes e com esta nova realidade para também crescermos”.

 

Além da vertente competitiva, “queremos muito conhecer o Porto e os locais mais icónicos”. “Esperamos voltar para o ano, mas, no presente, é aproveitar ao máximo o que este torneio oferece – futebol, muita diversão, aprendizagem e ter a oportunidade de conhecer a cidade, a sua cultura e gastronomia”. Confessou-nos que depois dos jogos vai ficar por aqui para conhecer o norte de Portugal com a família.

 

 

Elai Sanchez joga no Techfit. É um jovem jogador de 13 anos convicto do que quer. É a primeira vez que vem a Portugal e diz-nos com alguma ironia: “oxalá que consigamos ganhar, pelo menos, um jogo!”, sorri. Começou a jogar futebol empurrado pelo irmão mais velho. Confessa acompanhar o futebol europeu tal como Eli, de 11 anos, a única menina que alinha na formação e ameaça: “Marco alguns golos!”. Diz-nos que é “fã do Ronaldo”, mas vem aqui para provar “que as raparigas nos Estados Unidos também jogam à bola”. Alejandro Escobar, de 12 anos, puxa-nos a camisola e diz que também quer ser entrevistado. “O futebol que praticamos é muito diferente do que se passa aqui, quero aprender com os melhores”, afirma.

 

 

Prémio Fair Play

 

Equipa que parece já merecer o Prémio Fair Play é a do Association Sportive de Truitier (do Haiti). São das formações mais animadas e aguerridas. Comemoram uma boa linha de passe, uma defesa e, claro, os golos. No final da partida com o SC Valenciano, do qual saíram vitoriosos, o treinador agradece o apoio, bate palmas à bancada repleta de pais e de jogadores de outras equipas. Jean Romel Anéas, o homem que dá corpo e alma ao clube que fundou, o Truitier, diz “ser muito importante participarmos neste tipo de iniciativas e dar a oportunidade às nossas crianças de vivenciarem não só uma experiência desportiva, mas visitarem o país do Cristiano Ronaldo”. Está a ser uma experiência “única” e ainda está só no começo.

 

 

Texto: Sara Oliveira

Foto: Rui Meireles

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