15/06/2023

O relógio marca as 18h00 quando se começam a ouvir vozes afinadas. São as crianças do Coro Lira que, numa espécie de “sobe e desce”, percorrem a escala musical para cima e para baixo. A Associação de Moradores do Bairro Social da Pasteleira – Previdência/Torres é, desde há dois anos, a casa deste grupo com três formações: o Coro Infantil, o Coro Juvenil (o protagonista da história de hoje) e o Coro de Adultos. 

 

No próximo sábado, 17 de junho, às 21h30, o ringue desde bairro vai receber “VOX HUMANA”, um espéculo especialmente desenvolvido para o Cultura em Expansão, numa criação conjunta de Dada Garbeck – alter ego do artista e compositor Rui Souza – e do Coro Lira. Feita a pensar numa voz coletiva, na polifonia da palavra, esta apresentação pretende ir “à procura da voz”. 

 

O Coro Lira ensaia ali todas as semanas, mas nenhuma das crianças é residente no bairro. Raquel Couto, maestrina e diretora artística deste grupo, lamenta nunca terem conseguido captar as crianças do Bairro da Pasteleira, mas, diz, “gostávamos muito e esperamos que este projeto, que vai ser apresentado aqui no ringue, seja uma porta aberta para elas. Porque a porta está sempre aberta”. 

 

 

Durante o aquecimento, explica-nos que “o convite para este espetáculo surgiu pelo Teatro do Frio, como curadores do Cultura em Expansão na Pasteleira”, numa proposta que pretende ser um encontro entre duas entidades: o Coro Lira, enquanto grupo residente da associação, e Dada Garbek.  

 

Depois de uma breve pesquisa, Raquel aceitou o convite: “Pareceu-me muito interessante, porque no Coro Lira apostamos na diversidade de experiências e projetos como este encaixam-se perfeitamente no nosso trabalho”. 

 

Participantes de várias idades 

 

Com idades entre os 9 e os 17 anos, as crianças e jovens que estarão “em palco” no próximo sábado têm agora contacto com um estilo diferente do que estão habituadas. Mas o entusiamo é o mesmo de sempre. 

 

Amélia tem 10 anos e está no Coro Lira há dois. Pilar tem 12 anos e integra o grupo desde setembro. A mais nova apressa-se a dizer que “este concerto é especial porque vai ser num sítio diferente, não é num palco, como estamos habituados”. A mais velha não se assusta com a ausência de partitura, já que “só é preciso treinar e acabamos por nos habituar. Afinal de contas, com ou sem partitura, vamos ter sempre de memorizar”. 

 

 

Amélia ainda confidencia que o projeto “está a ser muito divertido” e que gosta, sobretudo, por ser “um género de música diferente daquele que normalmente ouço”.  

 

Rui Souza tem vindo, desde há alguns anos, a fazer um trabalho sobre a voz (e por isso o nome deste espetáculo, “VOX HUMANA”), em muitas dimensões diferentes, mas nunca tinha trabalhado com um coro de crianças.  

 

 

O processo, explica, começou desde logo com o “envolvimento com a comunidade, através de algumas conversas informais com as pessoas que frequentam este espaço da associação”. Mas houve também um “trabalho de criação e de improvisação com o coro, com as crianças”.  

 

Encontro dos participantes com o espaço que os acolhe 

 

Em palco estará também um morador do bairro, “que tem uma paixão enorme pela Índia, mas que nunca foi à Índia”, refere.  

 

Para Rui era essencial encontrar forma de envolver esta comunidade, uma vez que os elementos do Coro Lira são externos ao bairro. Por isso, acrescenta, “este espetáculo vai servir para conectar o coro e as crianças com o espaço que os acolhe neste momento. Mas também vai proporcionar aos moradores uma experiência diferente, envolvendo-os com o coro. É interessante para as duas partes”. 

 

 

Num processo de ensaios que foi “muito orgânico e muito natural”, o artista explica que “as crianças têm uma coisa muito especial que os adultos não têm, que é o facto de não terem medo de experimentar coisas novas, de arriscar. Com elas não há tanta timidez, não há o receio de fazer mal. Há muito menos filtros e estão muito mais predispostos à nova experiência”. 

 

No próximo sábado, pela “mão” do Cultura em Expansão, o ringue da Pasteleira vai proporcionar a desconstrução da lógica mais tradicional do conceito de audição, mostrando a todos que é possível haver sons “estranhos e que soam mal”. Rui espera “que a malta da Pasteleira apareça em peso”. 

 

Texto: Catarina Madruga

Fotos: Guilherme Oliveira

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