13/09/2023

Entre esta sexta-feira, dia 15, e domingo, dia 17, decorre no Clube Fluvial Portuense um dos torneios emblemáticos da cidade, encarado como uma das principais competições de polo aquático e ponto de encontro de clubes e atletas portugueses e estrangeiros.

 

Numa altura em que a modalidade luta para ter mais expressão no panorama desportivo nacional, competições como o Meeting Internacional Prof. Rui Moreira revestem-se de especial importância para os desportistas, não só pela natureza competitiva, mas também no que concerne à troca de experiências e práticas.

 

Nesta edição, o torneio traz uma novidade: além da participação de equipas seniores masculinas, a competição foi alargada às formações femininas, promovendo a igualdade de género nesta modalidade.

 

 

O Fluvial é uma das coletividades desportivas mais antigas do país e uma referência nos desportos aquáticos no Norte, em especial nas modalidades de natação e polo aquático. Não será, pois, uma surpresa ouvirmos frases como “é uma paixão”, “este é o meu clube” ou “amor à camisola”. Nuno Marques, de 31 anos, é um dos atletas da casa. Ainda menino, com nove anos, deu as primeiras braçadas no Fluvial e não mais parou. É atleta de polo aquático e treinador principal da equipa sénior feminina do Fluvial. Uma “responsabilidade” e um “desafio” que assume há dois anos. Reconhece estar “a gostar da experiência”. “O treino de desportistas no feminino acaba por ser mais fácil comparativamente com as formações masculinas, conseguimos com maior facilidade captar a atenção das atletas”, explica.

 

 

Praticamente todos os dias da semana, sempre ao início da noite e após uma jornada de trabalho ou de estudos, a equipa feminina treina naquela que é a sua “segunda casa” – o Clube Fluvial Portuense (o tal local de encontro de ambições e de sonhos). Às 20h00 já lá estava Nuno, atento a todas as movimentações das suas atletas na água, já equipadas para mais um intenso treino. “Isto é mesmo nadar e jogar por gosto e amor à camisola?”, questionámos. “É muito amor à modalidade e ao clube”, confessa.

 

A atual situação do polo aquático nacional não é das mais expressivas e se enquadrarmos nesta equação as formações femininas, o panorama não muda de figura. “É preciso lutar, treinar muito e sermos mesmo persistentes”. “Sai do nosso bolso e suor” e, desabafa, “o polo aquático, na formação, não está ao nível do que desejaríamos”, conclui. Basta analisarmos a competição do ano passado. Na verdade, o número de equipas que figuraram no campeonato nacional da primeira divisão feminina sénior de polo aquático contam-se pelos dedos das mãos: três do Norte - o Fluvial, o Pacense e o Lousada - e duas equipas de Lisboa - o Benfica e o Cascais. “Estamos a falar de um desporto ainda amador, sendo que o que motiva as atletas é mesmo o prazer e gosto por jogar a modalidade”, adianta Nuno. O exemplo está mesmo ali, de costas, dentro na piscina juntamente com mais colegas de equipa. Perfilada entre as parceiras encontramos a número 10 – a capitã da formação fluvialista de polo aquático.

 

 

 

Desafiámo-la a juntar-se à conversa. Afinal, o desporto no feminino ainda tem esta urgência e necessidade de compreendermos de que cedências e lutas é feito. Ana Andrade é a desportista mais experiente. Com 36 anos, divide o tempo em parcelas muito bem distribuídas: tempo para ser mãe de uma pequena fluvialista de dois anos, tempo para ser a responsável do seu estúdio de electroestimulação e tempo para assumir o papel de capitã da formação feminina de polo aquático do Fluvial. Mas não é a única a gerir de uma forma sábia e rigorosa a força de vontade e o tempo útil para treinar. No universo da equipa existem médicas, designers, dentistas, enfermeiras e estudantes.

 

“O Fluvial foi, muitas vezes, a minha primeira casa”

 

Ana começou no clube portuense como praticante de natação ainda criança. Desafiada pelos primos e pela tia, ambos com ligação ao clube, deram-lhe a notícia de que iria abrir a secção feminina de polo aquático. Como já andava na natação, decidiu experimentar. “Identificava-me com a água” e, explica-nos, “o facto de frequentar o Fluvial desde muito pequena, também ajudou. Os meus pais eram sócios, ainda nas velhas instalações, portanto, a minha relação com o clube é quase umbilical. Muitas vezes foi a minha primeira casa e não a segunda!”, justifica. “Encontrei nesta equipa mais uma família, rimos, temos momentos de partilha desportiva e pessoal, mas também discutimos”. Ainda assim, no final, tudo parece compensar, “senão não estaria aqui [no polo aquático] há 12 anos”.

 

O Fluvial continua a ser o clube que, em termos de formação na modalidade, tem mais atletas nas suas fileiras (masculino e feminino). “Temos desportistas que são mães e trabalhadoras, de uma faixa etária alargada – entre os 17 aos 37 anos. As mais velhas vêm para aqui treinar e deixam os filhos em casa, no dia a seguir têm de trabalhar cedo… isto não é fácil”, atesta o treinador. “Há muito amor pela modalidade, paixão pelo clube e são as desportistas mais experientes que acabam por passar estas experiências e valores às mais novas”.

 

O que falta fazer no polo aquático feminino?

 

“Quem quiser abraçar o desporto no feminino encontra cada vez mais oferta, mais mercado”, justifica Nuno Amaral. Mas, neste momento, e no que respeita ao polo aquático feminino nacional, a modalidade “já teve melhores dias”. Trata-se também de uma questão geracional e de identificação, já que não há em Portugal cultura desportiva expressiva neste desporto específico.

 

A capitã partilha da mesma opinião do seu treinador. Começa, de facto, a “existir mudança” e dá o exemplo de desportistas que estão a jogar no estrangeiro, “como Inês Braga, que começou aqui no Fluvial, e outra atleta que foi para o Bordéus e, agora, joga profissionalmente nos Estados Unidos”. Ainda assim, em Portugal “viver deste desporto não é uma realidade, isso só acontece lá fora, há mais abertura até porque noutros países como em Espanha ou Itália, o polo aquático é desporto rei”, concretiza.

 

 

“Há muito para fazer e todos nós – clubes, treinadores, atletas - temos essa responsabilidade. No Fluvial tentamos desenvolver uma série de iniciativas para que haja jogos e competições, é esse espírito que pretendemos potenciar para permitir que os atletas possam crescer na sua formação e ter sucesso”, acrescenta Nuno Marques. E, como quem nada por gosto, não disfarça sonhos de conquista, para os próximos tempos, além da vontade em participar no máximo de competições possíveis, como o Meeting Internacional deste fim de semana, o que a equipa quer mesmo é “preparar o campeonato nacional, lutar pelo título e, quem sabe, trazer de novo a taça para casa”, formula a capitã.

 

Texto: Sara Oliveira

Fotos: Andreia Merca

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