“Surf para Todos” é o nome do programa que, esta quarta-feira, proporcionou uma tarde diferente a 60 crianças e jovens de oito instituições de solidariedade social das cidades do Porto e de Matosinhos. Nesta quinta-feira, dia 16 de maio, o dia é dedicado ao “Surf Adaptado”, direcionado para portadores de deficiência.  A iniciativa faz parte da 10ª edição do Porto&Matosinhos Wave Series.

Marcelo Martins, responsável pela organização desta prova, diz que além do carácter competitivo, o Porto&Matosinhos Wave Series tem uma forte componente social. “Queremos levar o surf ao maior número possível de crianças e jovens. Vão ser aproximadamente 60 participantes, crianças que vivem em situação de risco, neste que é um batismo de surf. Queremos mostrar a estas crianças, que por norma não têm esta oportunidade, o que é o surf, quais são as sensações que este desporto transmite. É passar um bocadinho daquilo que é a felicidade que sentimos quando estamos no mar e quando deslizamos em cima de uma onda. Queremos despertar também o gosto pelo desporto, promover hábitos de vida saudável”.

Marcelo Martins, da escola de surf Onda Pura, destaca também a iniciativa de “Surf Adaptado”. “Temos mantido este programa ao longo do ano e vamos ter uma competição adaptada, é sempre muito especial. No final atribuímos um prémio aos dez participantes pela forma como se têm integrado e entregue a este desporto. É uma energia muito especial, muito única”.

“A prancha é a vossa melhor amiga”

O primeiro grupo de jovens a ir ao mar pertence a associações da Câmara Municipal do Porto, vêm da Obra de Frei Gil, da Casa do Vale, Obra das Candeias – Nossa Senhora do Abrigo, Associação de Proteção à Infância Bispo D. António Barroso e do Instituto Profissional do Terço.

Alexandre Corte Real é um dos monitores do “Surf para Todos”. Dá as boas-vindas ao grupo e começa por perguntar quem vai experimentar esta modalidade pela primeira vez. Seguem-se as orientações para o batismo de surf. “Primeira lição: a prancha é a vossa melhor amiga! O surf, como na vida, precisa de equilíbrio. Observem a posição base, dobrar joelhos, abrir os braços e olhar em frente”.

Os alunos ouvem atentamente, de seguida seguem para o areal onde vão repetir as orientações, aquecer e entrar no mar.

Beatriz tem 17 anos, e conta que “sempre quis experimentar uma aula de surf, acho que deve ser muito fixe. A explicação pareceu fácil, vamos ver…”. A Bruna, por seu lado, tem 12 anos, e apesar se esta ser a primeira vez no mar, com uma prancha de surf, não tem medo. “Se cair levanto-me, sei nadar mal, mas não tenho medo”. Catarina diz que veio “experimentar o surf, porque é uma modalidade que sempre quis experimentar e também posso divertir-me”.

Este grupo de jovens pertence à Obra de Frei Gil de Ramalde. Rita Fernandes, assistente social desta instituição, diz que ao longo da semana a ansiedade foi grande, todos queriam ter a oportunidade de viver esta experiência e de ir ao mar.

"Temos muitas crianças e jovens com várias problemáticas e vidas muito difíceis, todos muito marcados pela vida que tiveram até ao momento. Estas iniciativas são espetaculares para eles, pois para muitos é a única oportunidade que têm de ter contacto com outras modalidades. Se não houvesse esta possibilidade, nós não conseguíamos proporcionar esta experiência”.

Atento ao grupo, Alexandre Corte Real, o monitor que está com os jovens da Obra do Frei Gil, diz o principal desafio é tirar o medo da água. “O meu papel como instrutor é passar uma experiência positiva às crianças, porque o contato com a água faz muito bem, é uma atividade física dentro da natureza, num ambiente de mar. Queremos que se divirtam, que tenham contacto com a água, com uma prancha, ver os colegas e assim criar uma comunidade. E que fiquem com vontade de voltar”.

Catarina Araújo, vereadora da Juventude e Desporto da Câmara do Porto, acompanhou esta iniciativa do “Surf Para todos”. “Que tal a experiência, foi boa? Foi a primeira vez? Quantas vezes caíste à água?”.

Ainda com o fato de mergulho vestido, as crianças e jovens atropelavam-se nas respostas. “Eu gostei, queria vir todos os dias”; “À segunda tentativa fiquei logo de pé na prancha”.

Para Catarina Araújo, “esta é uma iniciativa muito importante e diferenciadora, porque através do “Surf para Todos” promovemos o papel social e inclusivo do desporto. Conseguimos proporcionar um dia feliz e único a estas crianças, que vêm de realidades e contextos difíceis. Ao viverem estas experiências, ao terem contacto com a natureza, com o mar, o convívio com os amigos e novos amigos, a oportunidade de conhecerem outras realidades, é um fator motivador e acredito que para muitos possa despertar o gosto pelo desporto e por uma vida mais saudável. Este programa, e à semelhança de outros apoiados pelo Município, quebra barreiras e promove a igualdade de oportunidades”.  

O batismo de surf terminou com a entrega de diplomas de participação, pela mão de Catarina Araújo. A vereadora do desporto deixou uma palavra de incentivo a todos, para que se interessem pelo desporto. O município do Porto promete continuar a investir no desporto e dar oportunidades a todos.

O Porto&Matosinhos Wave Series é organizado pela Onda Pura Surf Center com a colaboração das câmaras municipais do Porto e de Matosinhos. Uma prova que tem o apoio da Ágora.

Texto: Rute Fonseca

Fotos: Andreia Merca