04/04/2022

Daniel Maia e César Morais são dois atletas do FC Porto e integram a Seleção Nacional de Futsal Síndrome de Down (FutDown). Partiram na quinta-feira passada, 31 de março, com destino ao Perú, onde estão a disputar o Terceiro Campeonato do Mundo de Futsal FIFDS (Federação Internacional de Futebol para Síndrome de Down), que decorre até 12 de abril.

 

A Seleção Nacional de Futsal Síndrome de Down (FutDown) é a atual campeã europeia. O título foi conquistado em novembro de 2018, depois de bater por 4-0 a campeã do mundo, Itália, naquela que foi a primeira edição do torneio. César Morais foi ainda eleito o melhor marcador do torneio, com seis golos, vencendo a Bota de Ouro do Campeonato da Europa Futsal FIFDS. 

 

Daniel Maia e César Morais foram dois dos sete atletas que em novembro de 2021 foram reconhecidos pelo Município do Porto, depois das medalhas obtidas no EuroTriGames (Campeonato Europeu para Atletas com Trissomia 21).

 

Estivemos à conversa com a dupla no último dia de estágio de preparação para o Campeonato do Mundo. A poucas horas da partida, o entusiasmo era visível e, apesar de não serem novatos nestas andanças, o nervosismo não deixava de estar presente.


 

Daniel Maia tem 24 anos e não se recorda da primeira vez que jogou futsal, mas sabe que “o sonho começou aos três anos” quando pegou numa bola de futebol de praia . Todos os sábados, faz o “gosto ao pé” e recebe as melhores dicas para ser um atleta de sucesso.

 

O companheiro de seleção, César Morais, tem 34 anos e partilha a mesma paixão desde os tempos em que “treinava com o [meu] irmão todas as quintas-feiras”. César trabalha no Centro Social das Antas e ao fim de semana dedica-se ao desporto, à dança e à música.

 

Os dois atletas integram a secção de Desporto Adaptado do FC Porto e a amizade e companheirismo são evidentes, mesmo para quem acaba de os conhecer e observa o treino da bancada. Sobre a exigência de ser atleta no “Dragão”, a opinião divide-se. César também integra a equipa de basquetebol e assume que os treinos são rigorosos. Já Daniel abraça o lema de que “quem corre por gosto não cansa”.

 

 

Foram campeões da Europa em 2018, em Itália. Como foi essa experiência?

[DM] Senti-me muito orgulhoso.

[CM] Foi uma festa! Marquei seis golos e ganhamos.

 

Estão muito ansiosos pela viagem que vão fazer amanhã para o Peru?

[DM] Sim, mas estou muito confiante!

[CM] Eu estou ansioso, mas quero trazer a taça.

 

E fazer parte da equipa de futsal do FC Porto é muito exigente?

[DM] Não é muito exigente. Eu acho fixe jogar e treinar pela equipa do FC Porto. Até já fui homenageado pelo presidente do clube.

[CM] É muito exigente. Eu estou no futsal, mas também jogo basquetebol no FC Porto.

 

Para além do futsal, como ocupam os vossos tempos livres?

[DM] Gosto muito de cantar karaoke e de dançar Michael Jackson. Até tenho uma tatuagem dele aqui no braço. Também gosto muito de pintar mandalas.

[CM] Eu jogo PlayStation . E também ando no rancho e toco cavaquinho.

 

Na cidade do Porto, quais são os vossos lugares favoritos?

[DM] Gosto mais da Torre dos Clérigos.

[CM] Eu prefiro o Estádio do Dragão.

 

Depois de terem sido campões da Europa, o que gostavam de conquistar a nível desportivo?

[DM] Eu quero continuar a jogar bem… cada vez melhor.

[CM] Ser campeão do mundo com a seleção.

 

 

 


Os objetivos, as dificuldades e as equipas favoritas à vitória

José Costa Pereira, presidente da Associação Nacional de Desporto para Desenvolvimento Intelectual (ANDDI), revela que o objetivo neste campeonato é “fazer melhor do que no último mundial”. Para Costa Pereira “era excelente chegar às meias-finais; depois disso, tudo é possível”.

 

O também chefe de delegação considera que “esta é uma equipa com bastante experiência” e que os atletas, que são oriundos de todo o país, estão preparados para dar o melhor. A prestação do guarda-redes da seleção é enaltecida, já que “no europeu, foi o melhor do torneio”.

 

A deleção portuguesa reconhece que o caminho para a vitória não será fácil. Os favoritos são, “naturalmente, Brasil e Argentina”, reforça Costa Pereira. As principais dificuldades prendem-se com “a viagem longa e com utilização de máscara”, aliada à diferença no fuso horário e à humidade do ar elevada.

 

Neste tipo de torneio, há ainda regras que a maioria desconhece e que permitem dar maior ou menor “vantagem” às equipas. O presidente da ANDDI explica-nos porquê: “na síndrome de Down, há dois tipos de grupo: a Trissomia 21 e o Mosaicismo”. A equipa portuguesa tem apenas atletas do primeiro grupo e, por isso, terá alguma “desvantagem”, já que “o Mosaicismo pressupõe uma maior disponibilidade motora dos jogadores”. A regra estabelece que cada equipa só pode ter dois atletas “mosaico” e que, em campo, apenas é possível estar um.

 

O facto de Portugal não ter esta espécie de “joker” poderá trazer mais dificuldades no sucesso dos atuais campeões da europa, mas a equipa lusa vai a jogo com toda a determinação e vontade de vencer.

 



 

Campeonato do Mundo – os resultados da seleção nacional

O primeiro jogo de Portugal decorreu no sábado contra a Argentina. Apesar de ao intervalo o resultado ser 1-1, a seleção nacional acabou derrotada por 3-2.

 

No domingo, foi a vez de defrontar a seleção mexicana e o resultado não podia ter sido melhor: 5-3, com golos de Daniel Maia e César Morais.

 

O terceiro jogo da equipa portuguesa acontece já amanhã, num duelo com os anfitriões do torneio: a equipa do Peru.



Entrevista: Catarina Madruga / Ágora

Fotografias: Guilherme Oliveira e João Coelho

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