O ciclismo chegou ao recreio da escola básica N. Srª de Campanhã para uma tarde bem diferente, divertida e didática. Esta é a primeira ação de visita da iniciativa “Ciclismo Vai à Escola” que decorre neste primeiro semestre, de 2 a 26 de maio, em mais sete escolas do Porto.
Às 15h30 em ponto, a campainha ecoa nos corredores da Escola Básica N. Sr.ª de Campanhã. As atividades extracurriculares hoje não aconteceram. O cesto de basquetebol e a bola tiveram descanso. O jogo da macaca não teve a adesão esperada. Tudo porque hoje foi dia de “Ciclismo Vai à Escola” para 18 crianças, entre os 6 e os 10 anos de idade.
O recreio da escola N. Srª de Campanhã estava diferente com bicicletas, pinos e capacetes expostos. Algumas crianças mostravam-se receosas. Outras já estavam prontas para entrar em ação – inédita nesta unidade escolar e que, para alguns dos alunos da professora Marina Castro, tem “extrema importância”. Até porque, confessa-nos, “fora de casa as nossas crianças têm outras prioridades”.
Dar a oportunidade de experimentar uma “atividade ao ar livre, diferente, com regras e que pode contrariar o sedentarismo depois dos dois anos de pandemia” é, para a docente, “muito bom”.
A nossa conversa foi prontamente interrompida pela Yasmine que, do alto dos seus oito anos, desafia a professora a observar como se desenrasca a andar numa bicicleta que parece maior do que o seu pequeno porte. Mas “meninas não se medem aos palmos”, diz-nos a sabedoria popular, e a verdade é que Yasmine foi uma das crianças que mais cedo conseguiu completar a gincana de obstáculos. A adrenalina da velocidade é-lhe apelativa, mas “eu sei usar os travões!”, diz.
Travões é que parecem não entrar no léxico de Francisco. Começou por dizer que não sabia andar de bicicleta. Foi para o grupo das crianças que começaram por aprender o básico: andar em linha reta, olhar em frente e tirar os pés do chão. “Isto afinal é fácil!”, convence-se a si próprio. E o certo é que, minutos depois, estava a pedir à monitora para lhe colocar no outro. “Calma, tens de esperar que os colegas completem o circuito”. Impaciente esperava e desesperava. Até que conseguiu uma bicicleta livre, um capacete e com as mãos fixas no guiador e pés nos pedais, lá foi ele. Ouviu-se uma salva de palmas.
Questionamos no final - “Francisco, afinal sabes ou não sabes andar de bicicleta?” e ele respondeu: “Estava com um bocadinho de medo…”, disse corado. Não chegou a completar a frase porque o “Chico”, como é conhecido no recreio, já estava a tentar negociar com um amigo nova volta.
Uma das monitoras que participou na primeira ação de formação de capacitação “Ciclismo Vai à Escola” foi Ana Catarina Pereira. Não hesitou em aderir a esta iniciativa, pois reconhece ser uma “oportunidade das crianças experimentarem uma modalidade diferente” e que, mais tarde, “poderá fazer a diferença no seu dia-a-dia”. A nível pessoal também foi desafiante: “sinto que estou capacitada para ensinar ciclismo, algo que, curiosamente, não aprendi na faculdade”, explica-nos.
Balanço de "Ciclismo Vai à Escola"
O projeto “O Ciclismo vai à Escola” tem um modelo progressivo, flexível e adaptável às características e necessidades de cada contexto específico.
Neste primeiro semestre, de 2 a 26 de maio, a iniciativa promovida pela Federação Portuguesa de Ciclismo, com o apoio do Município do Porto, através da Ágora, tem agendadas na cidade mais 19 visitas às escolas básicas de Montebello, S. João de Deus, S. Roque da Lameira, Condominhas, Pasteleira, Fonte da Moura e Ponte.
Irina Guerreiro, da Federação, reconhece ser uma iniciativa com uma “evolução significativa”, mas o objetivo é “ter mais crianças a pedalar e a saber andar corretamente de bicicleta”.
No Porto, esta é já a terceira edição do “Ciclismo Vai à Escola”, até porque o “feedback tem sido muito positivo”. Não se esquece de algumas das reações mais reconfortantes, como a de uma criança que um dia lhe disse estar a passar “o melhor dia da sua vida”.
Nas duas primeiras edições no Porto, ambas realizadas em 2022, o número de crianças que não sabia pedalar “era expressivo: 49% na primeira edição e 56% na segunda”, lembra. Neste ano, o ensino e o aperfeiçoamento a andar de bicicleta irá prosseguir. Ciclismo para a vida.
Texto: Sara Oliveira
Fotos: Rui Meireles