De 7 a 9 de outubro, o Pequeno Auditório do Rivoli acolhe mais uma mostra de cinema onde as questões do racismo, das migrações e do combate à extrema-direita dão o mote para diferentes exibições e debates. A entrada é gratuita para todas as atividades. Destaque para a estreia no Porto de "Alcindo", documentário de Miguel Dores sobre a morte de Alcindo Monteiro, em 1995.
Organizada anualmente pelo SOS Racismo, a MICAR – Mostra Internacional de Cinema Antirracista chega à 9.ª edição com a mesma intenção de sempre: promover debates sobre as discriminações, as violências que estas carregam e a construção de uma sociedade mais justa, a partir da exibição de um conjunto de filmes (nacionais e internacionais) que tocam estes temas.
Mais uma vez, o evento decorre no Pequeno Auditório do Teatro Rivoli e conta com títulos que procuram uma visão mais alargada sobre os horizontes relativos à diferença a vários níveis.
A abertura da iniciativa decorre a 7 de outubro, às 21h15, com a estreia no Porto do filme “Alcindo”, de Miguel Dores, premiado na edição do ano passado do DocLisboa.
O documentário transporta o espectador ao ano de 1995, quando um grupo de nacionalistas sai às ruas do Bairro Alto para espancar de forma organizada pessoas negras que encontram pelo caminho.
Resultado: 11 vítimas, uma delas mortal - Alcindo Monteiro. Cruzando relatos de familiares, amigos e militantes, com arquivos audiovisuais e experiências de luta contemporâneas, o filme “é a etnografia de uma noite longa — uma noite do tamanho de um país”, conforme se lê na apresentação.
O filme contará com a presença do realizador, que participará num debate no final da exibição.
Brasil em destaque no ecrã
A MICAR fará, nesta edição, uma viagem a muitos dos pontos onde a diferença étnica, racial, religiosa, política ou cultura ainda não é respeitada. Do cartaz proposto para os três dias, destaque para o filme “Espero tua (Re)volta”, que será exibido no sábado, 8 de outubro, a partir das 21h15.
Num momento particularmente instável e intenso no Brasil, com as recentes eleições para a presidência do país, este documentário é um retrato do movimento estudantil que ganhou força a partir do ano de 2015, ocupando escolas estaduais por todo o país.
Acompanhando três jovens do movimento e com imagens de arquivo de manifestações desde 2013, o documentário tenta compreender as ocupações e as suas principais pautas a partir do ponto de vista dos estudantes envolvidos.
As questões do Brasil atual estão ainda em destaque em “Fordlândia Malaise”, de Susana Sousa Dias, um filme sobre o presente e a memória de Fordlândia, uma company town fundada por Henry Ford na floresta amazónica em 1928, para escapar ao monopólio britânico da borracha. A exibição está marcada para domingo, dia 9 de outubro, às 19h15.
Outros temas em discussão
O acesso à habitação é outros dos temas que perpassa a mostra, com a exibição dos filmes “Distopia”, de Tiago Afonso (8 de outubro, 17h15), “Tarrafal”, de Pedro Neves (8 de outubro, 19h15) e “Jamaika”, de José Sarmento Matos (9 de outubro, 15h15).
O encerramento da mostra está marcado para domingo, às 21h15, com a exibição de “Soleil Ô”, filme-manifesto de Med Hondo que expõe a pesada herança do colonialismo e o racismo sistémico que se replica, tendo como exemplo um homem que chega a Paris vindo da Mauritânia, nos anos 60.
Todos os filmes são seguidos de um debate com a presença dos realizadores e convidados, potenciando a troca de opiniões e a discussão sobre assuntos transversais às temáticas da iniciativa.
As sessões têm acesso gratuito, mas requer levantamento de bilhete no próprio dia (no máximo de dois por pessoa).
Toda a programação desta edição está já disponível em www.micar.sosracismo.pt.
Texto: José Reis
Fotos: MICAR 2022