30/03/2022

O Projeto Escolas da Liga Pro Skate está a decorrer em diferentes Escolas Básicas da cidade. A parceria da Federação de Patinagem de Portugal (FPP) com a Câmara Municipal do Porto vai permitir a centenas de crianças o contacto (muitas vezes, o primeiro) com a prática do skate. O objetivo é fomentar a modalidade e cativar os mais novos para a prática desportiva.

 

O recreio da Escola Básica dos Castelos é o cenário desta história e os alunos do 4.ºA são os protagonistas. O relógio marca 14h15 e os alunos já sabem o que os espera. Os adultos, estranhos àquele local, colocam os mais novos em alerta: “Vêm aí!”.

 

Antes de passar à prática, há tempo para uma curta aula de História ao ar livre. O professor Pedro explica que o skate teve origem no surf e na necessidade de procurar soluções para quando não havia ondas. “O que faziam os meninos do surf quando não tinham ondas? Resolveram colocar umas rodas numa tábua de madeira”. Os factos remontam aos anos 30 e, desde essa altura, a modalidade foi evoluindo e ganhando cada vez mais praticantes. Em 2021, foi reconhecida como modalidade olímpica, tendo-se estreado nos Jogos de Tóquio, no Japão.

 


Numa plateia improvisada, os 16 alunos do 4.ºA acomodam-se para caber nos dois bancos de pedra. Lucas e Santiago ficam de pé, mas não se incomodam e aproveitam um caixote do lixo para se apoiar. Com tantas caras novas, a curiosidade é muita para saber quem é quem. Paulo Ribeiro é o coordenador técnico do Comité Nacional de Skate e assegura que, “no skate, somos todos iguais e temos todos os mesmos valores: de igualdade e de amizade”.

 

 

Da teoria à prática: vamos tentar não cair!

 

Assim que terminam os “discursos”, seis dos rapazes voluntariam-se para serem os primeiros a pôr as “mãos na massa” (ou, neste caso, os pés na tábua). Mas, primeiro, a segurança: é preciso colocar os capacetes.

 

O desafio inicial parece fácil: pôr um pé em cima dos parafusos que unem a tábua às rodas (é uma referência espacial que permite perceber, com facilidade, a distância a que os dois pés têm de estar um do outro e a posição paralela que devem ter). A seguir, colocar o outro pé. Depois, tirar e pôr várias vezes. “E agora, os dois ao mesmo tempo! Saltar para cima e agora para fora. Mais rápido.”, orienta o professor Pedro.



O incentivo é constante e, com mais ou menos facilidade, todos terminam o exercício. Os olhos estão agora postos nas rampas pretas, que antecipam a adrenalina que virá logo de seguida.

 

Santiago, de óculos e de corpo franzino, vai com confiança, mas está muito atento às instruções do professor: “Primeiro colocas o pé de trás, depois o da frente, dobras os joelhos e tens de olhar para a frente”. E lá vai ele, sem cair, e satisfeito com a conquista. Os colegas aplaudem.

 

Guilherme é mais cauteloso. Assume que tem receio e prefere ficar para trás: deixa passar Lucas à sua frente. Vai experimentar, mas primeiro quer observar os colegas. Quando chega a sua vez, já sabe o que tem de fazer: “Já sei, primeiro um pé e depois o outro”. Mais um caso de sucesso.

 

 

FPP quer trazer mais jovens para o skate

 

A Liga Pro Skate 2022 – LPS 2022 decorreu no fim de semana passado no SkatePark de Ramalde, numa edição que contou com 196 participantes, entre eles 42 estrangeiros, vindos de Espanha, Brasil, França, Alemanha e México.


 

Entre manobras, Paulo Ribeiro fala-nos sobre este projeto de ligação da Federação de Patinagem de Portugal (FPP) com a comunidade escolar.

 

“Nós temos dois grandes objetivos. O principal é a captação de novos miúdos, numa ótica de desporto saudável e de incentivo à prática. O outro objetivo é o envolvimento da comunidade ao nível das escolas de skate locais, para conseguirmos deslocar estas crianças para essas escolas e, dessa forma, fazer crescer o skate organizado e passar a ter cada vez mais praticantes da modalidade”.

 

É a vez de trocar de grupo e passar ao das raparigas, mas o Guilherme não quer largar o skate. Tem 9 anos, um sorriso doce, e só queria continuar a ‘brincadeira’: “Eu nunca tinha andado de skate e gostei muito desta experiência; gostava de andar mais um bocadinho para tentar habituar-me”. Quando vê a máquina fotográfica, envergonha-se, mas explica que “o mais difícil foi aquela manobra de ter de levantar o skate”, mas “não caí!”, diz orgulhoso.


 

Lucas tem 10 anos e observa muito atento as respostas do amigo. Aproxima-se e responde: “Eu também gostei muito e gostava que viessem cá mais vezes, para podermos aprender a andar”.

 

As meninas entram finalmente em cena e o entusiamo mantém-se. Larissa está atenta e, enquanto espera pela sua vez, confessa que “já tinha andado de skate”, mas que já não se lembrava. Segue as instruções que lhe são dadas e, com uma postura exemplar, “desfila” cheia de confiança.

 

Os exercícios repetem-se e percebe-se de imediato que “alguns miúdos demonstram à partida muita facilidade”, remata Paulo Ribeiro.


 


Esta história está quase a terminar e os protagonistas têm de regressar à sala de aula. O professor Pedro deixa uma última pergunta: “Divertiram-se?”. A resposta é dada “em coro”, num “siiiiiim” em uníssono. Os 16 alunos do 4.ºA tiveram um início de tarde diferente do habitual e o que mais querem é que o skate regresse à Escola Básica dos Castelos.

 

 

Texto: Catarina Madruga

Fotografias: Guilherme Oliveira & João Coelho

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