09/09/2020

A programação da nova temporada do Teatro Municipal do Porto foi apresentada esta terça-feira, primeiro numa conferência de imprensa e depois numa sessão aberta ao público, transmitida nas redes sociais e na rádio. Entre 17 de setembro e fevereiro de 2021, haverá um total de 69 espetáculos, dos quais 22 são estreias absolutas e oito nacionais, com a dança a ocupar um lugar de destaque. 


Com a promessa de abrir caminho a novos formatos de apresentação, criação e fruição, a nova programação procurou assegurar os compromissos da temporada anterior, apresentando vários reagendamentos.


Das 44 coproduções anunciadas, 33 são com artistas e estruturas que trabalham a partir da cidade e três são internacionais. Haverá ainda espaço para 14 sessões transmitidas online, no âmbito do novo programa TMP Online.


Na conferência de imprensa realizada no Café Rivoli, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, admitiu que todos os esforços "se concentraram na recalendarização dos espetáculos que se encontravam previstos", tendo sido "levados a cabo em concordância com o estabelecido pelas entidades estatais e locais competentes e sempre tendo em mente, como condição de partida e objetivo final, a máxima salvaguarda das condições dos artistas e companhias, a um nível logístico e financeiro". Tiago Guedes, diretor do TMP, acrescentou que "nós estamos cá para os apoiar e, efetivamente, cumprir todos os nossos compromissos e reagendar os seus espetáculos".

Com um investimento de 700 mil euros, a nova temporada é marcada pelos desafios exigidos no contexto do panorama atual, levando à necessidade de difundir adicionalmente os espetáculos através das plataformas virtuais, permitindo assim que chegue, a um maior número de pessoas.

"Devido à limitação a 50% da capacidade total das salas do Rivoli e do Campo Alegre, o número de bilhetes disponíveis será menor, assumindo-se assim o TMP Online como uma alternativa de relação entre os públicos e a programação artística", explicou o presidente do Porto.

Quanto às incertezas que o futuro reserva, no que diz respeito à evolução da situação epidemiológica vivida em Portugal, Rui Moreira disse não ser possível antecipar aquilo que vai acontecer. "Não se anunciam as coisas com antecipação, eu não posso dizer que daqui a três semanas vai haver uma contingência qualquer, não sabemos". "O Tiago Guedes já anunciou que o primeiro espetáculo (da Companhia israelita L-E-V), que íamos ter, foi cancelado, mas isso não quer dizer que nós não prossigamos", afirmou ainda, garantindo que serão cumpridas "rigorosamente" todas a normas de segurança e determinações que possam chegar das autoridades nacionais. "Se amanhã nos mandarem encerrar os teatros, nós encerraremos o teatro", referiu, sublinhando que todas as normas foram igualmente cumpridas na Feira do Livro do Porto.

Também o diretor do TMP considerou que foi cumprido o necessário. Tiago Guedes está convicto de que é uma temporada forte, bem desenhada e elaborada com medidas de segurança "bastante mais conservadoras" e, que agora, o resto não está nas mãos do teatro, cabendo ir "gerindo o dia a dia mediante as regras que forem emanadas".



LIGAÇÃO RETOMADA COM ESPECIAL ENFOQUE NA DANÇA


Após se ver obrigado a encerrar no mês de março, o TMP retoma a atividade com um conjunto de regras sanitárias apertadas, que serão cumpridas de forma escrupulosa nos espaços do Rivoli e do Campo Alegre, nomeadamente: o condicionamento da lotação das salas a 50%; a separação de dois metros entre pessoas; a criação de circuitos separados de entradas e saídas; a limpeza e desinfeção periódica dos espaços, equipamentos, objetos e superfícies.


A temporada arranca com uma criação do ator e encenador português Tónan Quito, "A Vida Vai Engolir-vos". O espetáculo, que se divide em duas partes que decorrem alternadamente no Rivoli (17 e 19 de setembro) e no Teatro Nacional São João (18 e 19 de setembro), é uma maratona de 10 horas em que é possível ver quatro das principais peças do dramaturgo russo Anton Tchékhov: A Gaivota, O Tio Vânia, Três Irmãs e O Ginjal.


Ao longo do primeiro semestre da programação, não vão faltar alguns nomes já conhecidos do público do TMP, como a Companhia Nacional de Bailado, o Teatro Experimental do Porto, Raimund Hoghe, Patrícia Portela, Cláudia Gaiolas, Jérôme Bel ou Joris Lacoste. O TMP prossegue ainda a sua ligação aos festivais da cidade, acolhendo, até fevereiro, o Festival Internacional de Marionetas do Porto, o Porto Post Doc e o Queer Porto.


REMONTAR A HISTÓRIA DA DANÇA


Seis temporadas depois da associação entre o Rivoli e o Campo Alegre ter sido rebatizada de Teatro Municipal do Porto, a programação, que se distingue pela sua multidisciplinaridade, voltará, a partir de setembro, a ter a dança enquanto disciplina central.


Assim, foi desenvolvido um programa de remontagens de espetáculos que dá a conhecer a História da Dança através de algumas das suas criações mais emblemáticas, como A Mesa Verde (1932) e Chronicle (1936), que se inserem no programa Dançar em tempo de guerra (19 e 20 de fevereiro), da Companhia Nacional de Bailado; RainForest (1968) e Sounddance (1975), duas peças de Merce Cunningham dançadas pelo CCN - Ballet de Lorraine, que apresenta ainda, nos mesmos dias (13 e 14 de novembro), For four walls, uma nova criação de Petter Jacobsson e Thomas Caley; The show must go on (12 e 13 de fevereiro), espetáculo de culto do coreógrafo francês Jérôme Bel, que foi apresentado pela primeira vez há 20 anos e será remontado com intérpretes locais do Porto e Lisboa; e Guintche (21 e 22 de outubro), solo de Marlene Monteiro Freitas que estreou em 2010 e que integra o foco de programação do TMP dedicado à artista. 


O ciclo especial sobre a obra e universo artístico de Marlene Monteiro Freitas -- figura incontornável da dança contemporânea, que recebeu em 2018 o Leão de Prata da Bienal de Veneza -- realiza-se de 21 a 30 de outubro, com três peças que marcam o percurso da coreógrafa e bailarina cabo-verdiana, por ordem cronológica: Guintche (21 e 22 de outubro), Jaguar (24 de outubro) e a sua mais recente criação Mal - Embriaguez Divina (29 e 30 de outubro). Paralelamente aos espetáculos, este ciclo de dez dias contará com várias sessões de cinema, conferências e workshops, num programa com curadoria de Alexandra Balona.


UM TEATRO HABITADO E VIVIDO POR ARTISTAS


Jonathan Uliel Saldanha será o próximo artista associado do TMP, iniciando assim um novo processo de criação e colaboração em vários momentos da programação das próximas duas temporadas, 20/21 e 21/22. O músico e artista visual, também conhecido por ser um dos fundadores dos colectivos SOOPA e HHY & The Macumbas, distingue-se pela criação projetos onde se combinam as artes plásticas, o vídeo, a dança e o som. O seu trabalho já foi apresentado em várias salas, festivais e instituições culturais nacionais e internacionais, como Palais de Tokyo (França), Unsound (Polónia), Primavera Sound e Sónar (Espanha), Teatro Municipal do Porto, Culturgest ou Serralves. O primeiro momento de Uliel Saldanha será com a performance/instalação Mercúrio Vermelho (11 e 12 de dezembro), no Teatro Rivoli.


Destaque também para o programa JAA! - Jovens Artistas Associados, que continua esta temporada com Ana Isabel Castro e a dupla Pedro Azevedo e Guilherme de Sousa. Mantêm-se ainda as residências de curta e longa duração, bem como o mais recente programa de bolsas para pesquisa e investigação artística Reclamar Tempo, que apoia atualmente 11 projetos de artistas a residir ou a trabalhar no concelho do Porto com 3.000 euros cada.


89.º ANIVERSÁRIO DO RIVOLI


Entre 20 e 24 de janeiro, celebra-se o 89.º aniversário do Teatro Rivoli com uma extensa programação que atravessa várias áreas, desde a literatura à dança, da música ao circo contemporâneo, passando pelo teatro. Nestes dias, será possível assistir à estreia nacional do comovente e envolvente Falaise (23 e 24 de janeiro), uma criação de Baro D'Evel, companhia franco-catalã de circo e artes performativas dirigida por Camille Decourtye e Blaï Mateu Trias; e às apresentações de Noite de Primavera (21 a 24 de janeiro), do Teatro Nova Europa, de Né Barros, e de Caixa para guardar o vazio (20 a 22 de janeiro), de Fernanda Fragateiro e Aldara Bizarro.


As celebrações contam ainda com o início do ciclo Modos de Comer (20 de janeiro), constituído por um programa com curadoria de Hugo Dunkel, em que serão organizados quatro jantares-conferência, um evento por mês, que culminará num festival de três dias em junho, que celebram a alimentação e as suas manifestações sociais, políticas, culturais e ecológicas. Há ainda um concerto organizado pela Matéria Prima e uma apresentação do projeto de Solveig Phyllis Rocher, que começou a ser desenvolvido em 2019 por ocasião do 88.º aniversário do Rivoli.


Até 25 de setembro, está à venda a Assinatura 6 que dá entrada, pelo valor de 40 euros, a um conjunto de espetáculos de dança (Mal - Embriaguez Divina, For four walls + RainForest + Sounddance, Canzone per Ornella + Postcards from Vietnam, The show must go on, Chronicle + A Mesa Verde, entre outro espetáculo à escolha). A assinatura pode ser adquirida nas bilheteiras físicas do Teatro Rivoli e Teatro Campo Alegre e na Bilheteira Online (BOL).

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